Título: Brasil em quarto lugar
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 19/01/2005, Internacional, p. A12

Relatório aponta 2004 como ano recorde na morte de profissionais de imprensa

O Brasil é o quarto país do mundo com mais jornalistas mortos em 2004, com seis vítimas fatais. A informação é do relatório da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), divulgado ontem. No mundo o número de profissionais de imprensa que morreram no exercício da profissão foi o pior já registrado na história: 129, um aumento de 43% em relação a 2003.

Segundo o relatório, houve um aumento dos assassinatos seletivos no Brasil, no Nepal, na Colômbia, no México e na Nicarágua, principalmente de repórteres investigativos.

Nos últimos anos a situação do Brasil piorou muito. De acordo com um relatório da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), em 2001 houve apenas um caso de jornalista que morreu exercendo a profissão.

- A situação é alarmante, houve um crescimento muito grande do número de mortes principalmente considerando que o Brasil não está em guerra. Comparando com outros países do continente, o Brasil é o mais violento para jornalistas, mais até do que a Colômbia que tem mais problemas com o narcotráfico, a violência e com perseguições do que o Brasil - afirmou Carmen Silva, chefe do Departamento de Direitos Humanos da Fenaj.

Segundo Carmen, no país, as vítimas são em maioria os jornalistas que tentam desvendar organizações ligadas à corrupção e às drogas. Como foi o caso de Tim Lopes que foi assassinado em 2002, quando investigava a prostituição e o tráfico de drogas nos bailes funk cariocas. A dirigente da Fenaj também lembra que o campo é um local de perigo para os profissionais de imprensa, onde ocorrem muitas agressões.

Em relação à situação mundial, Aidan White, Secretário Geral da Federação Internaconal de Jornalistas explicou que ''os meios de comunicação são cada vez mais rápidos e conseguem cada vez mais informações''.

- O que fez os jornalistas terem se tornado vítimas de pessoas às quais a verdade não convém - afirmou.

O representante da ONU na Europa, Hassen Fodha, acredita que vários países não respeitam, nem protegem a liberdade de imprensa e lamentou que, apesar de todo o trabalho, a situação da segurança dos profissionais esteja piorando. De acordo com a FIJ, a Ásia é a região que menos respeita a liberdade de imprensa.

A Federação informou que o Iraque foi a nação mais perigosa em 2004, com 19 jornalistas mortos, seguido das Filipinas, onde 13 morreram. A Índia, com sete jornalistas mortos, ocupa a terceira posição na lista de países mais perigosos, à frente do Brasil. Bangladesh (5), México (5), Colômbia (4), Nepal (4), Rússia (3) e Sri Lanka (3) seguem depois.

- Alguns foram assassinados por bandidos ou matadores profissionais, outros foram vítimas do sistema nervoso, da indisciplina ou do mau enquadramento de soldados - afirma Chris Warren presidente da FIJ.

A Federação está investigando outras mortes e acredita que o número de 2004 ainda vá subir. O total de vítimas inclui mortes acidentais ou ocorridas quando os jornalistas eram apenas observadores e funcionários que ajudam a imprensa, como motoristas e tradutores.