Título: Alta de juros desaquece comércio
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 19/01/2005, Economia, p. A19

Aumento das vendas em novembro foi o menor em nove meses: 6,44%. Rio cresce abaixo da média

O comércio brasileiro conseguiu em 2004 mais do que o alcançado nos três anos anteriores juntos. Pelas contas do analista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Nilo Macedo, os varejistas não só recuperaram as perdas registradas entre 2001 e 2003 como também deverão obter crescimento acumulado de 2,6% em quatro anos, após aumento de 8% nas vendas no ano passado.

O IBGE divulgou ontem o 12º mês de aumento consecutivo nas vendas: em novembro houve acréscimo de 6,44% em relação ao mesmo mês de 2003. Foi, contudo, a menor alta verificada nos últimos nove meses. O faturamento dos comerciantes, por sua vez, cresceu 12,19%. Ainda de acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio, de janeiro até novembro, as vendas cresceram 8,98%.

Todos os setores conseguiram compensar o tempo perdido. Na pior performance, os revendedores de veículos e autopeças ao menos empataram as vendas, com patamar de consumo idêntico ao verificado quatro anos atrás. E o setor de supermercados, ainda ressentido de seqüelas da renda, registrou tímido crescimento de 1,72% em quatro anos.

- Se renda e emprego continuarem a crescer, bens não-duráveis como alimentos e bebidas e supermercados vão ter crescimento sustentado, num ritmo ainda maior em 2005. Pode ser a vez desses subsetores que cresceram menos em 2004 - avalia o economista do IBGE, coordenador da pesquisa.

Nilo comparou o comportamento atual do comércio com os tempos de lançamento do Plano Real. ''No início de 1995 havia uma preocupação muito forte com a volta da inflação e o governo tomou medidas drásticas para frear a demanda'', o que, segundo ele, está longe de acontecer. ''O aumento dos juros é muito suave; não chega a enfraquecer o consumo''.

Apesar da comparação, o IBGE aponta que a alta da taxa Selic para 17,75% ao ano, nos últimos meses, deve começar a se refletir no comércio no segundo trimestre de 2005. O foco do varejo será mais voltado para os supermercados, roupas, remédios e outros bens dependentes de salários. Por outro lado, segmentos vulneráveis a crédito, como móveis e eletrodomésticos, sofrerão com o aumento do custo do dinheiro.

O crescimento das vendas no Rio de Janeiro ficou abaixo da média nacional: 2,72%. Só houve queda em Roraima (3,98%).