Título: PF retira computador da Casa Civil
Autor: Quadros, Vasconcelo
Fonte: Jornal do Brasil, 09/04/2008, País, p. A3

Delegado federal vai ao Planalto e inicia formalmente o caso sobre quebra de sigilo

Brasília

O delegado Sérgio Menezes foi, ontem, na Casa Civil, no quarto andar do Palácio do Planalto, e aprendeu seis computadores ¿ cinco notebooks e um desktop ¿ de onde a polícia suspeita que podem ter sido retiradas as planilhas com informações sobre os gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e sua mulher, Ruth, vazadas para os jornais, que a oposição chama de dossiê.

O delegado também fez levantamento sobre os funcionários que trabalham em salas próximas ao gabinete da chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, para definir o perfil de quem teve acesso aos equipamentos. A polícia não definiu ainda um alvo específico, mas deverá ouvir mais de dez servidores federais, alguns remanescentes do governo tucano.

Menezes, que ontem comunicou ao Ministério Público do Distrito Federal a abertura do inquérito, disse que a investigação será rápida e discreta. No ano passado, ele esclareceu o escândalo do mensalinho, envolvendo o ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti. Foi ele, também, que coordenou a Operação Xeque-Mate, no Mato Grosso do Sul, que terminou com uma devassa na residência do irmão do presidente Lula, Genival Inácio da Silva, em São Bernardo do Campo. Carioca, 43 anos, Menezes ocupa o cargo de Delegado Regional na Superintendência da PF em Brasília e tem dito a colegas que investigará com liberdade e impessoalidade.

Esclarecimento

Num encontro com a bancada do PDT no Congresso, o presidente Lula disse que o governo quer o esclarecimento do caso e nunca teve interesse em produzir um dossiê contra adversários.

¿ Se fosse, estaria pronto há muito tempo. Só me interessa saber quem vazou. O que me preocupa é que outras informações vazem", afirmou o presidente, segundo relato do senador Cristóvam Buarque (PDT-DF).

Lula deixou ao pedetista a impressão de que o vazamento partiu mesmo de alguém de dentro do Palácio do Planalto.

O diretor da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa ¿ que se encontra em Portugal ¿ disse, por meio de sua assessoria, que os limites da investigação só podem ser definidos pelo delegado responsável pelo inquérito, que vai apurar a suposta existência de crime caracterizada pelo vazamento de dados sigilosos ¿ ao contrário do que disse o ministro da Justiça, Tarso Genro. Mas sem fechar os olhos o que for sendo descoberto no decorrer da investigação. Corrêa não vê nada de anormal na organização de um banco de dados de caráter administrativo¿ que a oposição chama de dossiê ¿ e frisa que o episódio se transformou em suspeita de crime no momento em que houve o vazamento.

¿ A PF vai até onde existir crime e ninguém, a não ser o delegado que preside o inquérito, tem atribuição para dizer o que deve ou não ser investigado ¿ diz o presidente da Associação Nacional dos Delegados Federais, Sandro Avelar.

Outro dirigente de entidade, Marcos Wink, da Federação Nacional dos Policiais Federais, acha o inquérito está destinado a não encontrar delito ou culpado por conta do tempo decorrido e não porque a polícia vá aceitar intromissão política. Ele acha que o inquérito deveria ter sido aberto antes, de ofício, e que o governo está tentando usar a credibilidade da polícia.