Título: Indústria terá R$ 250 bi do BNDES
Autor: Monteiro, Ricardo Rego
Fonte: Jornal do Brasil, 09/04/2008, Economia, p. A18

Volume de recursos para a política industrial corresponde à metade de todo o previsto para o PAC

Ao reduzir a liquidez no mercado mundial, a crise americana aumentou a importância do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a nova política industrial desenhada pelo governo. Diante disso, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, anunciou ontem que o banco vai dispor de um montante de R$ 250 bilhões, até 2010, para financiar os setores contemplados pela nova política. Jorge confirmou que as novas regras do que denominou de Programa de Desenvolvimento Produtivo deverão sair já na semana que vem.

Somente a título de comparação, o volume de recursos que será destinado para a política industrial, via BNDES, representa praticamente metade dos R$ 504 bilhões que o governo prevê, no mesmo período, para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Diferentemente da política industrial, porém, os investimentos do PAC também provêm de fontes privadas.

Jorge confirmou que o desenho definitivo ainda depende de reuniões que terá nos próximos dias com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. No encontro, por exemplo, serão definidas as receitas das quais o governo poderá abrir mão, a título de renúncia fiscal, para tornar viável a nova política industrial.

A intenção, de acordo com o ministro, é criar condições para que uma série de metas seja atingida até 2010. Além de aumentar a taxa de investimento (formação bruta de capital fixa) de 16,5% do Produto Interno Bruto, registrada em 2006, para 21% do PIB, a intenção é elevar os gastos em pesquisa de 0,51%, também registrados em 2006, para 0,65% do PIB. O rol de objetivos do governo também inclui o aumento de 1,15% para 1,25% da participação das exportações brasileiras no mercado internacional, além da ampliação em 10% do número de micro e pequenas empresas exportadoras.

Importância maior

Com relação ao papel do BNDES, o ministro admitiu que a redução da liquidez internacional ¿ devido à crise subprime ¿ poderá aumentar a demanda da indústria junto ao banco. Jorge só não revelou quais as fontes para capitalizar a instituição, alavancada à condição de motor da nova política. Sem descartar o Tesouro Nacional, o ministro demonstrou confiança de que será possível obter capital novo junto ao próprio mercado.

O ministro participou ontem, no Rio, da cerimônia de posse do presidente e do conselho diretor da Câmara Americana de Comércio do Rio. Na ocasião, chegou a brincar com o ex-presidente da entidade Sidnei Levy que momentos antes havia condenado a possibilidade de um terceiro mandato para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Levy lembrou que, por tradição, os presidentes dos Estados Unidos e do Brasil nunca permaneciam por mais de dois mandatos. Em resposta, o ministro lembrou que Franklin Delano Roosevelt permaneceu por quatro mandatos à frente da Casa Branca.

Depois da cerimônia, no entanto, Jorge negou que defendesse a permanência de Lula por mais um mandato, como deseja uma parcela do PT:

¿ Foi só uma brincadeira com ele, ninguém está pensando nisso. O presidente é um constitucionalista ¿ desconversou o ministro, que também confirmou a nomeação da secretária executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, para o Conselho Fiscal do BNDES.

Sem demonstrar qualquer constrangimento com as acusações de envolvimento da nova conselheira com o escândalo do dossiê contra os tucanos, Jorge fez questão de afirmar que chancelou a nomeação de Erenice.

¿ Os critérios são experiência e conhecimento ¿ justificou o ministro. ¿ Foi uma decisão anterior às denúncias e acho que não atrapalha em nada. Foi decisão pessoal minha, não tem nenhuma razão para reverter a decisão.