Título: Araújo saiu porque não viu outra alternativa
Autor: Quadros, Vasconcelo
Fonte: Jornal do Brasil, 08/04/2008, País, p. A5

Boa Vista

De família nordestina, Odílio Soares de Araújo nasceu na Terra Indígena Raposa Serra do Sol e quase 60 anos depois teve de deixar uma fazenda na área homologada em abril de 2005, onde criava gado e praticava agricultura de subsistência. Agora, reassentado no Projeto de Assentamento (PA) Nova Amazônia, nos arredores de Boa Vista, ele, que optou por não resistir, afirma que não lhe restava outra saída.

Araújo mora na capital e vai ao assentamento nos fins de semana. A antiga fazenda de aproximadamente mil hectares foi trocada por uma parcela de terra no projeto de assentamento, de 446 hectares. A sede é uma casa de madeira de quatro cômodos. A principal reclamação é com a qualidade da nova posse:

¿ A terra não presta e nessa quantidade é muito pouco para fazer pecuária extensiva.

Araújo não revela o valor da indenização recebida pelas benfeitorias, mas definiu-a como insatisfatória e deu um exemplo: Se uma cadeira custa R$ 10, eles (Funai) fazem depreciação e pagam R$ 5 ¿ queixa-se.

Acrescentou que enfrenta "a realidade como ela é, mas o prejuízo não se discute". Segundo Odílio, seus antepassados ajudaram a construir Roraima e a desbravar o interior. Ele garante que nunca houve divergências entre agricultores com o seu perfil e indígenas na Raposa Serra do Sol, que daria para abrigar todos. E prefere não fazer juízo de valor sobre a resistência dos arrozeiros em sair de lá:

¿ Cada um toma a sua decisão. De acordo com o Incra, havia 292 famílias de não-índios cadastradas na Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Delas, 139 já foram reassentadas em lotes. Além do assentamento Nova Amazônia, há famílias na zona rural do município de Alto Alegre, a 55 quilômetros da capital. Sessenta e quatro lotes têm até 100 hectares e o restante, de 100 a 500 hectares. (ABr)