Título: Sem diploma, como o presidente conterrâneo
Autor: Ângelo Castelo Branco, Paulo Tarso Lyra e Sérgio
Fonte: Jornal do Brasil, 16/02/2005, País, p. A2

O deputado Severino Cavalcanti fez questão de ressaltar, ao tomar posse como presidente da Câmara, a semelhança de sua trajetória com a de Luiz Inácio Lula da Silva.

- Não vou criar empecilho para meu conterrâneo, que também saiu de Pernambuco para o Sul - afirmou.

Caberá a ele definir a pauta de votações da Casa. A declaração sinaliza que a promessa de lutar pela independência do Legislativo, inclusive valorizando os projetos e a agenda dos deputados, não implicará atritos com o Executivo. Severino também lembrou no discurso, repetindo Lula ao ser proclamado presidente da República, que desmereceram sua candidatura porque ele não tem um diploma universitário.

- Agora, digo para todos os meu diletos companheiros: vim aqui para aprender. Aprendi tanto que cheguei à presidência da Câmara dos Deputados - declarou.

Egresso do chamado baixo clero, Cavalcanti promete assegurar independência do Poder Legislativo em relação ao Palácio do Planalto e aumentar os poderes dos deputados.

Durante a campanha, ele anunciou pelo menos duas propostas nesse sentido. Uma delas é tornar obrigatória a execução do orçamento da União, o que acabaria com a possibilidade de o governo federal reter a liberação das emendas parlamentares destinadas a redutos eleitorais. No ano passado, a Câmara ficou mais de dois meses sem votar projetos em plenário por problemas no desembolso das emendas individuais dos deputados.

- A maioria dos que aqui se encontram está determinada a mostrar ao governo que esta é uma eleição histórica, com o fim do ciclo de impor aos deputados e deputadas a humilhante votação com barganha de votos - declarou Cavalcanti, ao defender sua candidatura na tribuna, quando ainda aparecia na banca de apostas como azarão.

A declaração torna ainda mais espinhosa a definição dos recursos do Orçamento que serão congelados pela equipe econômica. O anúncio do contingenciamento será feito este mês.

- A liberação das emendas do Orçamento e o atendimento dos nossos pleitos são direitos inerentes ao mandato que não podem ser utilizados como aviltante moeda de troca a cada votação. Se fôssemos tratados com a atenção e o respeito que merecemos, não haveria necessidade de o governo se desgastar em mais uma ação humilhante e desesperada para uma constrangedora cena de aliciamento e ingerência de um Poder sobre o outro, expondo esta Casa e todos nós à degradação pública - declarou Cavalcanti.