Título: ANP anuncia campo gigante e desagrada a Petrobras
Autor: Monteiro , Ricardo Rego
Fonte: Jornal do Brasil, 15/04/2008, Economia, p. A17

A Petrobras descobriu aquele que pode ser confirmado como o terceiro maior campo de petróleo do mundo, na mesma região do pré-sal da Bacia de Santos na qual encontrou, no ano passado, o megacampo de Tupi. O diretor geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Haroldo Lima, anunciou ontem as dimensões do novo campo, batizado preliminarmente de Carioca, cujas reservas somariam até 33 bilhões de barris de óleo equivalente (boe, medida que inclui petróleo e gás natural). Se confirmada, esta será a maior descoberta de petróleo no mundo, nos últimos 30.

A nova descoberta, de acordo com especialistas, indicaria que todas as áreas já anunciadas no pré-sal constituiriam, na verdade, um só campo gigante, com dimensões que englobariam os Estados de Espírito Santo, Rio e São Paulo. Localizado no bloco BMS-9, a área batizada de Carioca foi descoberta por um consórcio que inclui não só a Petrobras (45% de participação), a operadora do projeto, mas também a britânica British Gas (BG, com 30%) e a espanhola Repsol (25%).

¿ Estamos sabendo por canais não oficiais, da operadora (Petrobras), que o prospecto do Carioca, que é chamado internacionalmente de Sugar Loaf (Pão-de-açúcar), apontaria para reservas cinco vezes maiores do que as de Tupi ¿ revelou Lima, que participou ontem de seminário promovido pela Fundação Getulio Vargas (FGV). ¿ Seria a maior descoberta feita no mundo nos últimos 30 anos, e atualmente o terceiro maior campo de petróleo do mundo.

Mais tarde, a ANP divulgou nota na qual atribui as informações de Lima a uma revista estrangeira.

Mal-estar no governo

A divulgação ontem pelo diretor do órgão regulador, em lugar da Petrobras, causou mal-estar entre representantes do governo e até da própria estatal. Embora a empresa não tenha confirmado o potencial da descoberta, o simples anúncio pela ANP provocou uma verdadeira corrida às ações ordinárias (ON) e preferenciais (PN) da Petrobras, que fecharam em alta, respectivamente, de 6,21% e 4,77%. Experientes executivos do setor confirmam, no entanto, as dimensões do campo, mas temem que a ten dência já revelada de politização das descobertas possa atrasar o início da produção de Tupi, Júpiter e, agora, Carioca.

De qualquer forma, a Petrobras emitiu ontem nota oficial sobre o caso: "O consórcio (...) continua seguindo o programa exploratório do Bloco BM-S-9 na Bacia de Santos. O Bloco é composto por duas áreas exploratórias. Na maior delas foi perfurado o primeiro poço 1-BRSA-491-SPS (1-SPS-50) que resultou na descoberta anunciada em 05 de setembro de 2007. Na ocasião foi informado ao mercado que são necessários novos investimentos que contemplariam a perfuração de novos poços e cujo Plano de Avaliação está em fase final de elaboração e deve ser protocolado na ANP nos próximos dias", diz a nota, que conclui: "Dados mais conclusivos sobre a potencialidade da descoberta somente serão conhecidos após a conclusão das demais fases do processo de avaliação, e serão informados ao mercado oportunamente".

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Mauricio Tolmasquim, participou ontem do mesmo seminário que o diretor da ANP. Antes de sua apresentação, que ocorreu depois da de Lima, manifestou estranheza com o anúncio do diretor do órgão regulador. Para Tolmasquim, o anúncio deveria ter sido feito pela Petrobras.

A opinião é a mesma do consultor Marco Tavares, da consultoria Gás Energy, para quem o anúncio daria margem à especulação com os papéis da estatal. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) também divulgou nota com críticas ao anúncio a respeito de uma empresa de capital aberto e informou que vai estudar outras medidas sobre o caso.

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, pediu cautela em relação ao novo bloco. O ministro disse que não desejava desmentir nem confirmar a existência do campo. De acordo com Lobão, a Petrobras fará um esclarecimento em relação ao assunto.

¿ Temos que ter cautela nessa matéria ¿ afirmou. ¿ Recomendei que a Petrobras tomasse a posição oficial por parte do governo e que tranqüilizasse o mercado.