Título: Mantega: Brasil pronto para crescer 5%
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Fonte: Jornal do Brasil, 15/04/2008, Economia, p. A16

Analistas de mercado apostam que Copom elevará Selic em 0,25 ponto percentual amanhã

O Brasil está pronto para crescer 5% durante os próximos três anos, apesar da crise financeira global e do aumento dos preços dos alimentos, afirmou ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Um dia antes da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, hoje e amanhã, Mantega disse que "excluindo os preços dos alimentos, a inflação no Brasil está muito bem comportada".

¿ Existe uma razão muito clara para o aumento da inflação no Brasil. Não são problemas estruturais, isto se deve em função à elevação dos preços das commodities. Existe uma questão mundial com alimentos neste momento ¿ afirmou o ministro a repórteres durante um seminário organizado pela Câmara de Comércio Americano-Brasileira, em Nova York.

Mantega disse que o Brasil deve aumentar seu suprimento de alimentos, em vez de cortar a demanda por este, para combater a inflação.

¿ Temos condições de crescer 5% ao ano de forma sustentável. Ninguém quer desequilíbrios na economia, mas nós temos que combater os desequilíbrios certos ¿ disse.

A visão de crescimento de Mantega para o Brasil contrasta com a estimativa de analistas: discursando no mesmo seminário, o economista sênior do Goldman Sachs Paulo Leme prevê que economia brasileira crescerá menos de 4% em 2009 devido à desaceleração econômica global e à campanha de aperto monetário temporário do Banco Central.

¿ Acredito que o Brasil precisa controlar sua demanda doméstica para combater a inflação ¿ disse Leme, que lidera o departamento de pesquisa econômica de mercados emergentes no Goldman. ¿ Esta é a palavra chave: "controlar", não "cortar" ¿ concluiu Leme.

Expectativas

Analistas de mercado das principais instituições financeiras brasileiras mantiveram a aposta de que o Banco Central elevará a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto percentual na reunião de amanhã do Copom. Com isto, segundo boletim Focus, distribuído pelo BC, a taxa, que está atualmente em seu menor nível histórico a 11,25%, iria para 11,5% ao ano.

Excesso de prudência

O economista André Franco Montoro Filho, professor titular da USP e ex-secretário de Planejamento de São Paulo, entende que até por uma questão de coerência com suas últimas sinalizações, o Banco Central deve elevar a Selic. E também aposta na faixa de 0,25 ponto percentual. Mas considera a provável atitude do Copom como um "excesso de prudência".

¿ É verdade que os indicadores de inflação estão um pouco dúbios, mas não se deve esperar nenhum efeito catastrófico com a alta dos juros, inclusive porque, na área do consumo, os bancos já se anteciparam e elevaram as taxas, o que deverá aplicar algum freio na demanda ¿ explicou.

Sobre a crise nos Estados Unidos, Franco Montoro Filho acha que o Brasil tem fôlego para enfrentar eventuais turbulências, especialmente porque os contratempos americanos consistem num desajuste financeiro forte, mas que não deverá ter longa duração.