Título: Meirelles vai ao Senado explicar juros
Autor: Camarão, Rodrigo; Monteiro, Viviane
Fonte: Jornal do Brasil, 16/04/2008, Economia, p. A18

Amplificada pela previsão de alta da taxa, divergência entre BC e governo ficará clara na CAE

Rio e Brasília

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, estará hoje às 10h na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado para prestar contas da política econômica do governo. Mas o assunto principal deverá ser a perspectiva de aumento da taxa de juros, a Selic. O presidente da CAE, Aloizio Mercadante, já tem preparada uma série de perguntas que fará ao presidente do Banco Central. O debate deixará clara duas visões divergentes sobre a condução da política econômica ¿ do governo e do BC.

Por mais de uma vez, o BC deu indicações de que pretende elevar a taxa já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na próxima semana, como forma de conter a inflação. Algumas vezes, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem ido a público falar que o crescimento brasileiro é sustentável e mostrando que o governo está avesso a qualquer mudança na Selic como forma de sustentar a inflação.

Nos dias 15 e 16, o BC deve elevar os juros básicos da economia em 0,25 ponto percentual, pelo menos é o que acha o mercado de acordo com o Boletim Focus divulgado pelo BC. O documento é elaborado por um grupo de 100 analistas do mercado financeiro. Industriais, contrários ao aumento dos juros, vêem com ressalvas a previsão do Boletim Focus ¿ já que ao mercado interessam juros maiores.

Até o levantamento anterior, a projeção média indicava estabilidade da taxa Selic nos atuais 11,25% ao ano. Agora, espera-se que os juros subam para 11,50% e cheguem a 12,50% até o fim do ano. As previsões de aumentos de juros são acompanhadas por elevações nas estimativas para a inflação deste ano de 4,47% para 4,50% ¿ o centro da meta.

¿ Eu lutei para que a meta de inflação não fosse reduzida para 4% ¿ diz Mercadante. ¿ Imagine se a meta fosse 4% e a previsão fosse de 4,5%. Como estaria a política econômica agora?

O Senador, que também é economista, prefere não antecipar a opinião sobre o aumento da taxa Selic. Mas algumas frases dão idéia clara de que o discurso é afinado com o governo.

¿ A inflação no centro da meta num cenário de forte aquecimento da economia mostra o êxito da política econômica ¿ diz o Senador. ¿ Um aumento poderia desacelerar esse crescimento econômico.

Como motivos para a manutenção da Selic estão o real valorizado em relação ao dólar e a expansão das importações e a menor pressão sobre as commodities causada pela crise americana.

O Conselho de Economia (Corecon), do Distrito Federal, e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) também argumentam que não existe a necessidade de o BC elevar a taxa Selic, pois não existem ameaças inflacionárias. Ressaltam que as expectativas para a inflação, medida pelo IPCA, não se desviaram do centro da meta de 4,5% estimado para este ano.

¿ A gente fica desconfiado da pesquisa Focus, porque representa o mercado financeiro e, na verdade, ele busca essa referência do juro para uma elevação de seus ganhos ¿ disse o economista do Corecon, Júlio Miragaya ¿ Não vejo motivação para a elevação do juro.

O economista da CNI, Flavio Castelo, avalia que a elevação dos juros pode inibir o crescimento do investimento industrial.

¿ Temos de olhar as condições para se ampliar o investimento com objetivo de equilibrar a oferta e demanda. Sinalizar alta do juro só vai deteriorar o ambiente (positivo da economia) ¿ disse Castelo. Ele acrescenta que os aumentos de preços observados mais recentemente foram leite e carne porque foram pressionados pelo mercado interno.

¿ Se tirar esse produtos (dos cálculos) a inflação fica abaixo de 4% (nos últimos 12 meses) ¿ disse o economista.

Castelo avalia ainda que, se a autoridade monetária decidir aumentar a Selic nas próximas reuniões o BC, estaria contribuindo para acelerar a depreciação do dólar ante o real diante da crise dos Estados Unidos, o que atrairia mais capital especulativo para o país.