Título: Na longa noite, o efeito tsunami
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 16/02/2005, País, p. A4
Passava das 3h da manhã e o resultado do primeiro turno das eleições da Câmara havia sido proclamado há pouco, apontando uma nova disputa entre o petista Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), que recebeu 207 votos, e Severino Cavalcanti (PP-PE), com 124. Neste momento, um deputado do chamado baixo clero abraçou outro parlamentar, na entrada do cafezinho, e batizou com precisão o pesadelo do Planalto.
- Você viu o tsunami Severino? - ironizou, feliz da vida.
Severino só seria confirmado presidente da Câmara mais de três horas depois, derrotando Greenhalgh por 300 votos a 195. Mas os líderes governistas não escondiam o temor antes do segundo turno - no íntimo, sabiam que o jogo estava perdido.
- Está muito ruim, muito ruim. O PSDB paulista todo está com o Severino, estão jogando pesado - reclamou José Eduardo Cardozo (PT-SP).
Sem rumo, Greenhalgh corria da presidência da Câmara para a liderança do PT, na expectativa de tentar reverter a derrota iminente. Normalmente sorridente, o presidente nacional do PT, José Genoino, passava pelo salão verde atrás de aliados com fisionomia séria.
- Onde é a liderança do PT? Eu preciso falar com o Greenhalgh, urgente - pedia o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). O PFL liberaria a bancada, mas o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), jogava pesado para derrotar o governo.
O clima era de confusão. O líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), apostava que os votos do petista derrotado Virgílio Guimarães (MG) migrariam para Greenhalgh, o que acabou não acontecendo. Naquele instante, a dificuldade era ainda maior. Virgílio desaparecera do Congresso.
Perto de Luizinho, os líderes do PSB, Renato Casagrande (ES) e do PCdoB, Renildo Calheiros (AL), trocavam confidências e preocupações. Renildo descobriu que a bancada ruralista estava reunida. Só não sabia onde.
O caldo estava quase entornado quando uma BMW rasgou as ruas da Esplanada em direção ao Congresso. Era o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, em busca dos votos do PMDB. Como todo o governo, agiu tarde.