Título: Deve haver aumento agressivo de juro
Autor: Totinick , Ludmilla
Fonte: Jornal do Brasil, 13/04/2008, Economia, p. E3

Ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ex-ministro das Comunicações do governo FH, o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros não tem dúvidas do que o Banco Central deve fazer na reunião de quarta-feira. Deve aumentar a taxa de juros o mais rápido possível, pois segundo ele, o Brasil vive um desequilíbrio, mas normal.

O economista-chefe da Quest Investimentos vê a atitude como a única saída para impedir o aumento da inflação. Critica a atuação do governo em não colaborar e ressalta que, só nos dois primeiros meses desse ano, o governo já gastou 12% a mais que no ano passado. Mendonça de Barros responde com rispidez a qualquer pergunta sobre os efeitos da crise no país. Para ele, o Brasil está blindado. Tucano, faz críticas ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), petista, e alega que o programa é "uma grande embromação".

Na quarta-feira, o BC define se mantém ou aumenta a taxa de juros. O que acontecerá na sua opinião?

¿ Vai aumentar, claramente vai aumentar. O IPCA divulgado na quarta-feira ficou muito acima da expectativa de mercado. Deverá ser um aumento até mais agressivo do que se esperava. A inflação estava sendo discutida de forma teórica. Há um desequilíbrio claro entre oferta e procura dentro da economia, aquecimento acima do normal com os gastos das famílias, da empresas via investimentos e, principalmente, do governo. Isso estava muito mascarado porque o aumento da demanda está muito concentrado em bens duráveis, as importações estavam crescendo muito e, com a taxa de câmbio estável, a inflação não estava aparecendo. Mas esse desequilíbrio entre oferta e procura está começando a vazar para os setores de bens de serviços, mas ao longo do tempo iria começar a pressionar a inflação, como está acontecendo.

O Brasil estipulou, há alguns anos, um instrumento chamado meta de inflação para que o país não convivesse com taxas de 35% ao mês como era comum. A previsão não é que atinja o centro da meta, em 4,5%?

¿ No auxílio de metas da inflação, você tem duas formas de medir as expectativas. A primeira é via o modelo econométrico do Banco Central e que o mercado também tem acesso. Nele, a inflação já vinha crescendo e nos próximos meses irá superar o centro da meta. Também tem a medição pelo IBGE, onde no primeiro trimestre o Banco Central estava trabalhando com o IPCA na ordem de 1,3%, mas foi de 1,5%, bem mais alto do que se esperava. Não há dúvida de que há um processo de aumento da inflação, mas não é nada explosivo. Porém obriga o BC a não atrasar a iniciativa de aumento da taxa de juros já na próxima reunião.

Nas contas de economistas, não fosse o feijão e a carne, a inflação estaria em 3,4%. A capacidade instalada da indústria, medida pela CNI, caiu, não?

¿ Se for ver o que sobra, a inflação sempre fica abaixo da meta. Se tirar todo mês tudo aquilo que subiu mais do que deveria, a inflação fica abaixo da meta. Não é uma forma correta de medir. A inflação no Brasil é medida pelo IPCA cheio, além disso há claramente o desequilíbrio entre oferta e procura. O crescimento da demanda interna está acima da capacidade produtiva. O quadro de desequilíbrio é claro e evidente. A economia brasileira hoje é um organismo muito mais normal do que foi no passado. O economista tem de olhar para a economia brasileira com os olhos mais clássicos nos instrumentos de análise. Não tenha dúvida de que os gastos do governo, nos dois primeiros meses do ano, é 12% real acima do ano passado. O consumo também cresce a taxas quase acima de 10%. O Banco Central brasileiro, um banco responsável, tem de agir antes de a inflação atingir nível mais alto. Se o BC tomar essa medida, aborta o processo, ganha a confiança do mercado e a projeção da inflação será abaixo da meta. Além disso, com a subida dos juros claramente vai haver continuidade na valorização do real e com isso haverá contenção da inflação, principalmente nos segmentos trading.