Título: Melhor início de ano desde 2003
Autor: Severo , Rivadavia
Fonte: Jornal do Brasil, 04/04/2008, Economia, p. A17

A produção da indústria continua em forte expansão no país. Os indicadores industriais medidos em fevereiro pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), e divulgados ontem, revelam que o ritmo da atividade cresceu nos quatro indicadores avaliados em relação ao mesmo período do ano passado.

O faturamento das empresas aumentou 11,5%, as horas trabalhadas na produção cresceram 8,8%, o emprego 4,9% e a massa salarial 7,2%. O que reduziu foi a utilização da capacidade instalada das fábricas, em relação ao pico de novembro de 2007, quando o índice registrou seu maior nível de 83,3%. Em fevereiro foi de 82,9%.

Os economistas da CNI destacaram que o crescimento da economia dá sinais de ter fôlego, diferente do que ocorreu em 2004 no ciclo anterior de expansão econômica.

¿ O crescimento de agora está marcado pela intensidade e pela regularidade ¿ avalia o economista-chefe da CNI, Flávio Castelo Branco. Ele disse que o atual ciclo econômico está ancorado na expansão do consumo e do crédito, aliado à estabilidade da inflação e ao crescimento do emprego.

O estudo mostra que as taxas de crescimento da indústria dos últimos 12 meses são as mais altas desde 2003, quando a pesquisa começou. Entre os destaques estão o crescimento mensal do faturamento, que é o maior desde junho de 2007 e o de horas trabalhadas, que não crescia tanto desde abril de 2005.

O faturamento real das empresas subiu 0,3% em fevereiro em relação a janeiro e as horas trabalhadas deram um pulo de 1,6% no mês. No mesmo período, o emprego permaneceu estável e a massa salarial sofreu uma contração de 1,1%.

O faturamento da indústria, que é o que mais interessa aos empresários, cresce há sete meses consecutivos e atingiu o patamar de dois dígitos no primeiro bimestre do ano. O aumento foi de 10,9% em janeiro e de 11,5% em fevereiro.

Os segmentos responsáveis por esse bom momento da economia, são os automóveis, alimentos e bebidas e máquinas e equipamentos. A produção de automóveis explica 30% da elevação do faturamento da indústria de transformação e 40% do aumento da utilização da capacidade instalada nos últimos doze meses. Caso se junte à fabricação de carros a produção de alimentos e bebidas e de máquinas e equipamentos, os três são responsáveis por 64% da expansão do emprego e de 60% o incremento de horas trabalhadas no chão de fábrica no período.

Apesar de o crescimento econômico estar mais intenso nesses três setores, a melhoria dos indicadores abrange 15 dos 19 pesquisados em relação as horas trabalhadas na produção, que é a variável que melhor mede o incremento da produtividade da indústria, segundo os economistas.

Capacidade instalada

Até o recuo da capacidade instalada é comemorada pelos economistas. Paulo Mól, da equipe da CNI, explica que a queda é boa, porque mostra que investimentos em expansão do parque industrial maturaram. Segundo os economistas, a redução ocorre também porque está havendo recomposição de estoques da indústria. O crescimento da atividade econômica não preocupa, porque não pressiona a inflação que é regulada, em parte, pelas importações.

¿ São poucos os setores que apresentam alta da demanda. A metade está estável ou até com ligeira queda. Os que aumentam a capacidade já investiram em seus parques industriais ¿ explicou Castelo Branco.

O temor dos economistas ligados à indústria é que uma eventual alta da taxa básica de juros, aventada pela última ata do Conselho de Política Monetária (Copom), freie a expansão de investimentos na indústria e na economia em geral.