Título: Ausência em debate ameaça Lugo
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Fonte: Jornal do Brasil, 18/04/2008, Internacional, p. A20

"Paraguai Decide": o último debate presidencial antes das eleições de domingo fez juz ao nome se depender dos presentes na mesa redonda. A ausência do líder da oposição, Fernando Lugo, comunicada com apenas uma hora de antecedência, deixou candidatos e apresentadores indignados a ponto de fazer com que as repetidas críticas ao que consideraram um ato de "covardia" e "desrespeito" preenchessem a cadeira vazia do auditório. Na reta final da corrida presidencial, o mal-estar provocado e a campanha contra Lugo assumida pelo programa, de audiência nacional, arrancará votos do oposicionista. Mas ainda que a situação favoreça o oficialismo, não dever inverter as tendências de voto, avaliam analistas.

Pautado em sua maior parte por questões nacionais que tocam as relações com o Brasil, o debate teve como vencedor o candidato pelo partido Pátria Querida, Pedro Fadul. Com um discurso bem construído, o empresário deslanchou duros ataques à candidata oficialista Blanca Ovelar pelo Partido Colorado e angariou votos dos eleitores independentes que possam ter se decepcionado com Lugo.

Em uma carta assinada por seu chefe de campanha, Lugo justifica sua ausência pela "falta de condições políticas para participar de um programa destas características". Revoltado, o apresentador Humberto Rubín abriu o bloco do programa com uma série de ataques:

- Que significa isso? Lugo teve mais de uma semana para avisar que não compareceria e nos envia uma carta com uma hora de antecedência? Há 5 mil pessoas trabalhando neste programa e jornalistas do mundo inteiro na platéia. Que tremenda irresponsabilidade. É gravíssimo o que está fazendo. E apresentou algum certificado médico? Certificado de quê? De covardia ou traição? Não sei o que poderia fazer se tivesse o país em suas mãos. Fernando Lugo, você é um trapaceiro. Sua impotência acaba de te matar ¿ vociferou.

A analista política Milda Rivarola, no entanto, pondera: tudo o que "Lugo conseguiu nos outros debates foi atrair acusações e denúncias".

- Ele não tem nada contra a TV ou o debate. Apenas lhe foi recomendado que não desagastasse ainda mais sua imagem às vésperas do pleito.

Um vídeo em que o diretor geral brasileiro de Itaipu, Jorge Samek, defende os atuais termos do Tratado de Itaipu abriu a primeira discussão do debate. Blanca insistiu na necessidade de formar uma "equipe técnica para sentar à mesa de discussão com argumentos". Ligeiro, o independente Pedro Fadul lhe perguntou: "Onde estão estes técnicos que nunca olharam para a questão?". Esquivo, Lugo disse não querer "arrumar complicações", defendendo conversar com o Brasil a partir das regras do tratado escrito.

- Não entendo o que você quis dizer com condições políticas, por favor Lugo me ligue, me explique - insistia em interromper o apresentador, visivelmente irritado com a falta do candidato.

Se Lugo não queria desgastar sua imagem, "o que conseguiu foi o efeito inverso", ilustra o jornalista Antonio Carmona:

¿ O problema é que Humberto, uma pessoa muito conhecida, tomou a questão como pessoal e vai repetir em cadeia nacional sua indignação até domingo.

Sobre as relações bilaterais com o Brasil e o Mercosul, Fadul foi, novamente, o mais incisivo ao dizer que "enquanto o Paraguai não se apresentar como um interlocutor de respeito, não pode reivindicar nada. É preciso arrumar a casa primeiro". Enquanto Blanca defendia a redução das assimetrias no bloco com o aprimoramento dos fundos de compensação, Fadul rebateu:

- Diferentemente do que acontece na União Européia, cujos fundos de compensação têm o mesmo valor do Paraguai e são administrados por um órgão independente, quem os dirige aqui é o governo colorado e por isso não funciona.

Fadul está em quarto lugar nas pesquisas, atrás de Lugo, Blanca e do ex-general Lino Oviedo.

Duas horas depois de terminado o programa, a equipe de Lugo divulgou um comunicado lembrando que o "candidato participou de seis debates" e que "Oviedo e Blanca aproveitaram o programa para continuar com sua guerra suja".