Título: Chávez acena para mediar diálogo
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Fonte: Jornal do Brasil, 05/04/2008, Internacional, p. A22

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, acenou ontem que estaria disposto a retomar a posição de mediador pela libertação de sequestrados das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Mas reiterou esperar um gesto do governo colombiano, depois do período de estremecimento das relações entre os dois países.

¿ Estou disposto a continuar cooperando na mediação, mas é claro que a situação está muito complicada, extremamente complicada ¿ reforçou o venezuelano.

"Assim não dá"

Chávez disse que estaria disposto a viajar com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, com quem teria conversado a fim de buscar a ex-senadora Ingrid Betancourt.

¿ Estou às ordens, apesar das punhaladas que temos recebido ¿ alfinetou Chávez, que acusou Bogotá de desrespeitá-lo ao divulgar documentos supostamente encontrados no computador de um dirigente guerrilheiro morto em março. ¿ Não temos nada que fazer com isso e não lhe damos nenhuma credibilidade. A Venezuela se respeita. E fazemos um apelo ao presidente Uribe: queremos restabelecer as relações, mas assim não dá.

As relações entre Bogotá e Caracas se complicaram quando Uribe suspendeu, ano passado, o papel de mediador de Chávez no processo que poderia levar à troca de reféns das Farc por guerrilheiros presos.

A situação diplomática piorou no começo de março devido à ação militar colombiana contra acampamento das Farc em território equatoriano, que resultou na morte do dirigente rebelde Raúl Reyes. Em apoio a Quito, Caracas rompeu relações com Bogotá e enviou tropas à fronteira.

O chanceler francês, Bernard Kouchner, afirmou que a missão humanitária na Colômbia aguarda resposta das Farc para fazer contato com Ingrid. O avião francês com a equipe médica está na base aérea colombiana de Catam, abastecido e preparado para decolar para qualquer lugar dentro da Colômbia.

O governo colombiano anunciou que vai rever a libertação do ex-dirigente das Farc, Rodrigo Granda, solto ano passado a pedido da França. Em nota divulgada anteontem, no entanto, Granda descarta libertação de qualquer refém.

¿ Uma pergunta que é preciso se fazer é se está cumprindo os requisitos da lei, de que gozaria de liberdade para fazer gestão de paz, ou se simplesmente se reincorporou ao crime ¿ questionou Uribe.

Um diplomata francês afirmou ontem que a mensagem de Granda é anterior ao início da missão humanitária da França. A notícia talvez devolva esperança à irmã de Ingrid, Astrid Betancourt, que afirmou que a missão humanitária teria "ínfimas" chances de sucesso.

Recompensa

A comoção em torno dos sequestrados das Farc ganhou ontem as ruas da capital Bogotá. Centenas de pessoas com cartazes e bandeiras participaram da "Marcha pela Vida e Liberdade", para exigir a libertação de Ingrid e dos demais reféns.

Um guerrilheiro se entregou ontem às autoridades com dois seqüestrados. A libertação com fins econômicos é a primeira registrada na Colômbia e ocorre poucas semanas depois de Uribe anunciar a criação de um fundo de US$ 100 milhões para recompensar rebeldes que recorram à ação.

[ 05/04/2008 ] 02:01