Valor Econômico, 05/05/2020, Política, p. A17

Disputa no PP divide apoio a Bolsonaro
Marcelo Ribeiro
Renan Truffi


Um dos partidos que flertam com a possibilidade de compor uma base para o presidente Jair Bolsonaro no Congresso Nacional, o PP está rachado sobre o embarque no apoio formal ao Palácio do Planalto. Dois personagens centrais dessa divisão são pré-candidatos à presidência da Câmara: o líder do PP na Casa, Arthur Lira (AL), e o líder da Maioria, Aguinaldo Ribeiro (PB).

Enquanto Lira chegou a se encontrar com Bolsonaro e gravou um vídeo com o chefe do Executivo, Aguinaldo segue alinhado com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e mantém o discurso de independência em relação ao presidente.

Segundo fontes, a suposta preferência de Maia pelo nome do líder da Maioria para sucedê-lo teria contribuído para que o líder do PP na Casa decidisse se aproximar de Bolsonaro. O movimento começou a se desenhar em um momento em que o deputado do DEM sofria ataques virtuais de apoiadores do presidente, o que fez com que o presidente da Câmara evitasse dar entrevistas por 10 dias.

Na mesa de negociações, Bolsonaro ofereceu ao partido presidido pelo senador Ciro Nogueira (PI) poder de indicação em cargos no Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), subordinado ao Ministério do Desenvolvimento Regional, no Fundo Nacional de Desenvolvimento para Educação (FNDE), além de diretorias da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Nos bastidores, integrantes da cúpula do Congresso acreditam que a disputa no PP terá reflexos na corrida pelo comando da Câmara. Ainda que Lira esteja se aproximando do Planalto, parlamentares apostam que o vice-presidente da Casa, Marcos Pereira (Republicanos-SP), contará com o apoio de Bolsonaro na eleição. Com isso, o movimento de Lira de se colocar como potencial interlocutor do Congresso com o Executivo, caso seja eleito presidente da Câmara, perderá força.

Nesse cenário, lideranças acreditam que Aguinaldo sai fortalecido por seguir alinhado com Maia em sua distância protocolar com a Presidência da República. Após um mandato tampão, Maia se elegeu duas vezes para o principal cargo da Mesa Diretora. O perfil conciliador e o bom trânsito entre as bancadas partidárias contribuíram para suas vitórias. O líder da Maioria poderia se beneficiar caso o deputado do DEM se colocasse como seu cabo eleitoral informal.

Em conversas reservadas, Maia tem alertado aliados sobre os “perigos” de se aliar a Bolsonaro, dado o histórico de recuos do presidente. Em 2019, o chefe do Executivo chegou a abrir negociações com o Centrão, mas as articulações foram esvaziadas após ataques feitos por ele contra partidos da “velha política”.

De acordo com interlocutores de Maia, o parlamentar do DEM tem avaliado que o apoio de Bolsonaro na disputa pela presidência da Câmara pode interferir negativamente a depender da fragilidade do presidente. Os independente, em sua visão, poderiam ser beneficiados. Procurados, Lira e Aguinaldo não responderam até o fechamento da reportagem.

Enquanto o PP está mais avançado nas articulações para o embarque na base governista - a legenda já foi contemplada “parcialmente”-, outros partidos do Centrão mantêm uma posição mais neutra em relação ao Poder Executivo. Fontes afirmaram ao Valor que o apoio se concretizará apenas após a formalização das promessas.