Título: América Latina tem sua maior oportunidade de crescimento
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 06/04/2008, Internacional, p. A26

Conferencistas apontam melhoria de índices sociais e econômicos

Integração da sociedade e fim da divisão entre ricos e pobres são os próximos passos

Brasil precisa investir em portos e energia Em um painel de infra-estrutura na América Latina mediado por Regis Fichtner, secretário de Estado do Rio de Janeiro, que tratou dos temas energia e logística, Richard Klien, vice-presidente da Transroll Navegação, defendeu: a integração é essencial para o desenvolvimento e o progresso. ­ O Brasil ainda é muito dependente das estradas. A modernização de nossos portos traz a chance de melhorar os transportes e permitir que o comércio exterior navegue com mais eficiência e menos custo ­ sustenta. Klien contou que o arroz produzido no Rio Grande do Sul e consumido no Nordeste antes era transportado em caminhões, e agora escoa por frotas marítimas. Por isso, o preço do arroz diminuiu no Nordeste, e o produto não se perde no caminho. ­ Às vezes, a carga demora muito para chegar aos EUA, vinda do Brasil, porque tem de parar várias vezes em portos. Com transportes mais modernos e eficientes, os custos e o tempo de viagem seriam reduzidos ­ explica Klien. ­ A Baía de Guanabara e a localização são vantagens brasileiras. Já foi anunciado um projeto de construção de um mega porto no Rio de Janeiro. Produtos como papel e açúcar poderiam ser comercializados por rotas marítimas para ir a novos destinos e tornar as importações mais baratas. Boris Gorenstin, CEO da empresa Furnas, acrescentou gia é, em média, de 5% ao ano. Temos de investir bilhões no aumento da geração de energia. Segundo o empresário, a hidrogeração vai continuar a ser dominante. É a mais barata e o Brasil sé usar menos de 30% do potencial. Mas é muito indicado que passemos a investir cada vez mais em energia renovável, já que tem menos custo e usa recursos locais. ­ Pequenas hidrelétricas e biocombustíveis têm grande potencial no pais ­ resumiu. Em um workshop para os participantes da conferência, o famoso professor do MIT Eric von Hippel tratou da importância das idéias dos usuários para a inovação de produtos e como as empresas precisam reconhecer isso para ter maior sucesso, inclusive em países da América Latina. ­ Os usuários são os que melhor sabem e conhecem o que precisam ­ resumiu Hippel. O evento foi transmitido ao vivo nos sites do JB e da Gazeta Mercantil . Internautas pude- ram participar com perguntas durante as exposições. Fotos de divulgação CHOMSKY ­ Acadêmico criticou omissão dos candidatos americanos em relação à América Latina Cristine Gerk A América Latina, sobretudo o Brasil, vive um momento propício para receber amplos investimentos internacionais, mas o mundo desenvolvido precisa reconhecer melhor as oportunidades da região, marcada pelo preconceito. Numa tentativa de aumentar o conhecimento externo sobre as possibilidades latinas e melhorar a relação entre os países vizinhos, grandes líderes do continente reuniram-se sexta e ontem no Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos EUA, para discutir tendências de sucesso e novas formas de superar obstáculos. O acadêmico Noam Chomsky, um dos palestrantes da 11ª MIT Sloan Latin Conference, ressaltou a importância de projetos como o Banco do Sul, e elogiou a maior mobilização popular por melhorias no continente, "que deveria ser encarada como um modelo para os Estados Unidos". ­ A América Latina, sobretudo a América do Sul, entra num momento pioneiro. Era previsto que o Brasil seria o colosso do Sul. Por muitas razões, isso não aconteceu. Uma delas é que o país ficou à sombra dos colossos do Norte. Todos os problemas começam a ser enfrentados agora ­ afirmou Chomsky. O aumento da renda e do consumo em classes menos privilegiadas é uma das mudanças positivas, que pode ser ainda mais significativa se houver maior integração entre os países vizinhos. Donald Lessard, professor de international management do MIT, que abriu a conferência co-organizada pelo Jornal do Brasil e pela Gazeta Mercantil , junto com o presidente da Companhia Brasileira de Multimídia, Nelson Tanure, ressaltou que há modelos de negócios e inovações em questões ambientais e empresariais que precisam ser reconhecidos na região. ­ Tipicamente olhamos para América Latina como uma região com problemas. O foco da discussão é reconhecer nela um campo produtivo. Uma região de oportunidades ­ acrescentou. Inter esse Para Tanure, a América Latina desperta interesse como primeiro destino de investimento internacional depois de décadas de estagnação econômica e erosão social. ­ A qualidade dos palestrantes reunidos aqui, num centro de excelência como o MIT, é uma forte garantia do lugar importante que o continente ocupa na agenda global ­ completou Tanure. ­ Nesse evento, podemos listar melhor os desafios complexos que a América Latina enfrenta nas esferas social, política e econômica, e oportunidades excelentes que precisam ser detectadas. Chomsky acredita que a integração da sociedade e o fim da divisão agressiva entre ricos e pobres são passos importantes a serem dados. ­ Tudo está mudando de forma dramática pela organização popular. Na Bolívia, um dos países mais pobres da região, houve agora, pela primeira vez, eleições democráticas de sucesso. Movimentos populares lutaram pelo que consideram justo. Em diferentes formas, isso tem acontecido em toda a América Latina. Todos são modelos para nós ­ elogiou o acadêmico. ­ Nos EUA, apesar de 80% acharem que guerras como a do Iraque servem para o governo americano servir a seus próprios interesses e não ao do país atacado, 95% considerarem que as autoridades deveriam prestar mais atenção no que o público pensa e 80% defenderem que o país está no caminho errado, ninguém faz nada para mudar a situação. Chomsky ressaltou que a satisfação com o governo é alta na Venezuela, pelo aumento nos padrões sociais, como saúde e educação, mas isso não é mostrado nos EUA. O Banco do Sul, uma iniciativa venezuelana, pode ser uma forma de estabelecer um desenvolvimento independente e integrado da região, segundo ele. ­ O Brasil e a Venezuela estão estabelecendo acordos comerciais promissores. Mas, para os EUA, só existem a esquerda boa e a ruim no continente. Não é mencionado que há interações entre elas ­ acusa Chomsky. ­ Não importa o que pensamos sobre Chávez, e sim o que a Venezuela pensa dele. O acadêmico criticou ainda a omissão dos candidatos à Presidência nos EUA em relação a América Latina e a temas como o Irã. ­ Os candidatos à Presidência só falam no seu caráter e personalidade. Os americanos acham que os EUA deveriam tirar acusações em relação ao Irã e tratar os problemas diplomaticamente. O mesmo vale para Cuba. Ao irem contra isso, os candidatos vão contra os americanos e o resto do mundo ­ ataca Chomsky. Luiz Carlos Trabuco, CEO da Bradesco, lembrou que a América Latina teve melhora dos indicadores sociais como IDH, distribuição de renda, expectativa de vida e número de residências.. ­ No famoso Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), um pobre brasileiro tem quatro vezes mais renda do que um na Índia. A inclusão das classes de baixa renda requer a criação de novos produtos adaptados. Os 10% com maior renda têm 75% do mercado de seguro. Temos de criar iniciativas como o microseguro para lidar com isso. TANURE ­ América Latina desper ta novamente o interesse mundial depois de décadas de estagnação

Transporte por navio fez preço do arroz riograndense ter diminuição no Nordeste que 50% da população e 55% da produção de energia da América Latina estão no Brasil. ­ Nosso pico de demanda é comparável ao do Reino Unido, mas eles emitem 10 vezes mais gases do efeito estufa do que nós. Na nossa geração, 72% vêm de hidrelétricas ­ diz Gorenstin. ­ O crescimento no consumo de ener