Título: País não está imune a terremotos
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 24/04/2008, País, p. A7

Técnicos da UnB reúnem-se no Planalto em busca de verba para rede nacional sismológica Débora Motta Felipe Sil O tremor de terra que assustou moradores do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina e Minas Gerais na noite de terça-feira foi de baixa magnitude para causar tsunamis apesar de ser o sexto maior já registrado no país e o maior nos últimos 22 anos, mas é um erro o brasileiro acreditar que o país não está exposto a terremotos, como revela o senso comum. ­ Apesar de o Brasil estar situado em cima da placa tectônica sulamericana, ele não está livre. Os grandes terremotos ocorrem na zona de encontro das placas, mas os impactos também atingem o interior da placa. Os esforços são distribuídos para o interior da placa e, dependendo do solo, em alguns locais superam a resistência da rocha e gera, tremores ­ informa Cristiano Shimpliganond,.geólogo do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB), ­ Para ocorrer um tsunami, a magnitude tem que ser de pelo menos 7 graus na escala Richter, mas não foi o caso. O tsunami é causado por um falhamento inverso movimenta as placas, ou seja, quando o chão embaixo do mar sobe de forma repentina e gera ondas gigantescas. Ainda não temos dados para saber qual foi o tipo de falhamento que aconteceu ­ explica. Shimpliganond também decarta a possibilidade de um novo tremor de terra gerado em conseqüência do terremoto: ­ É comum observar tremores pós-abalos sísmicos no mundo inteiro. Até esperamos que aconteçam outros tremores menores, mas como o epicentro foi longe da costa, no fundo do Oceano Atlântico, eles não devem ser percebidos pela população. Shimpliganond ressalta que o país costuma ser alvo de abalos sísmicos mais fracos, abaixo de 4 graus na escala Richter. ­ As regiões que mais apresentam atividades sísmicas no país são Ceará, Mato Grosso, Rio Grande do Norte e o Sudeste inteiro. Já no Centro Oeste, a zona sensível ocorre ao longo de uma faixa estreita que engloba Mato Grosso (onde ocorreu o maior terremoto do país, na Serra do Tombador, de 6,2 na escala Richter, em 1955) e Tocantins ­ acrescenta o geólogo. Rede de acompanhamento Um grupo de sismólogos do Observatório da UnB reuniu-se ontem no Palácio do Planalto com representantes do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República para pedir a instalação de uma rede sismológica nacional. ­ Apresentamos um projeto para ampliar o monitoramento de terremotos para todo o país, com 40 novas estações sismográficas. No momento existem 50. Ainda existem trechos do território sem essa cobertura ­ ressalta. De acordo com Lucas Barros, diretor do Observatório da UnB, o preço de cada nova estação está estimado em R$ 41 mil, o que demandaria um investimento total de R$ 1,6 milhão. O professor lembra que tremores de menor intensidade já causaram danos no país. Em dezembro, no extremo norte de Minas Gerais um terremoto de magnitude menor (4,9 graus na escala Richter) foi capaz de derrubar muitas casas e produzir danos em muitas outras da comunidade de Caraíbas. O poder de destruição dos terremotos, explica Barros, está associado a pelo menos quatro fatores: a energia liberada no fenômeno, a proximidade com centros urbanos, a profundidade do foco do tremor e a qualidade das construções. ­ Em Caraíbas, se as casas fossem de melhor qualidade, por certo não teriam caído. Entretanto, eram muito ruins e o terremoto foi capaz de ruir quase todas ­ lembrou Barros. Em seu ex-blog, o prefeito Cesar Maia criticou o governo federal e sugeriu que ele interagisse com os centros de pesquisa e acompanhamento de sismos nos Estados Unidos para avaliar se o fenômeno era esperado e se vai haver mais incidentes. "Não há memória de grandes terremotos no Atlântico Sul. Mesmo um desses, em área urbana com construções sem prevenção sísmica, é extremamente grave. Meses atrás ocorreram em escala um pouco menor, no interior de Minas", escreveu Maia.

Estudante acompanhou os abalos

>> TECNOLOGIA CASEIRA ­ O estudante de geologia Rogério Marcon registrou o tremor que atingiu cinco Estados brasileiros através de um sismógrafo caseiro instalado no banheiro de sua casa, em Campinas. Folha Imagem

Jacarepaguá, o epicentro do susto no Rio Jacarepaguá foi o local do Rio mais atingido pelo tremor de terra sentido em quatro Estados brasileiros na noite de terça-feira. Das 54 ligações recebidas pela Defesa Civil, cerca de 60% foram provenientes do bairro. O Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio de Janeiro informou que, caso a intensidade do tremor fosse um pouco mais alta, os edifícios da região não teriam resistido ao abalo. ­ Ano passado, a Associação Brasileira de Normas Técnicas criou uma regra determinando que toda PROJETO ­ Lucas Barros, da UnB, discutiu com o governo meios de ampliar a monitoração ABr

Tremor afeta adutora e deixa 20 mil sem água SÃO PAULO O tremor de terra que atingiu ao menos quatro Estados na noite de terça-feira fez mais do que assustar a população. O impacto do abalo deslocou uma adutora da estação de tratamento de água que abastece a zona leste da cidade de Mogi das Cruzes, na região metropolitana de São Paulo, e deixou cerca de 20 mil moradores sem água. De acordo com o diretor-geral do Serviço Municipal de Águas e Esgotos (Semae) de Mogi, Dilson Del Bem, logo após o tremor, os técnicos perceberam que havia um vazamento em uma adutora que passa sobre uma ponte. Segundo informações do órgão, os motores de pressurização da água foram desligados, e o conserto foi feito durante a madrugada. O abastecimento foi normalizado ontem à tarde. nova construção deveria ter mecanismos para não sofrer com esse tipo de problema, mas a grande maioria dos atuais prédios não possui uma estrutura de defesa ­ alerta Canagé Vilhena, consultor do órgão. O área mais atingida foi Freguesia, mais especificamente nas ruas Travessa Cunha Galvão e Comendador Rubens Silva, onde os moradores chegaram a sair assustados para as ruas. Equipes de engenheiros e técnicos da Defesa Civil deslocaram-se para o bairro a fim de verificar se houve abalos estruturais em construções, mas nada de grave foi encontrado. ­ Não vimos nenhuma perda material. As pessoas ficaram muito confusas. O que procuramos fazer foi orientar esses moradores sobre a melhor maneira de agir ­ disse o subcoordenador da Defesa Civil, coronel Evandro Sarno. O presidente da Câmara Comunitária de Jacarepaguá, Carlos Neves, mostrou-se assustado com um fenômeno dessa natureza no bairro. ­ A área não tem um histórico de tremores de terra. Cheguei a ligar para vários parentes para saber se estavam bem ­ contou. (F.S.)