Título: Copom anuncia novo aperto monetário
Autor: SILVIA ARAÚJO
Fonte: Jornal do Brasil, 16/02/2005, Economia, p. A18

O Comitê de Política Monetária (Copom) deve sancionar hoje as expectativas do mercado de um novo aperto monetário na economia. A dúvida é se o aumento será de 0,50 ponto, acompanhando o ritmo adotado pelos diretores do Banco Central nas últimas reuniões, ou se o Comitê vai se valer de uma política ainda mais restritiva, conforme sinalizou na ata do encontro de janeiro.

O documento de janeiro promoveu um forte ajuste para cima de toda a curva de juros - formada pelos contratos de Depósitos Interfinanceiros, negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). Além disso, as estimativas para retomada dos cortes foram deslocadas para setembro.

Antes da ata, acreditava-se que o primeiro corte do juro poderia ocorrer a partir de julho. O documento, no entanto, indicou que o aperto monetário poderia ter sido maior em janeiro e que o juro pode se manter em patamar elevado por mais tempo.

Outra tese defendida pelos que estimam aumento mais acentuado para o juro tem como pano de fundo a expressiva desvalorização do dólar nos últimos dias. Para essa ala, o dólar só vai reduzir o ritmo de queda quando o nível de juro real cair.

Assim, diz um defensor da tese, o BC elevaria logo a Selic para 19% ao ano, promoveria mais rápido a convergência das expectativas para os 5,1% de inflação neste ano e, se tudo desse certo, poderia retomar os cortes da Selic antes de setembro. Caso contrário, corre-se o risco de a autoridade monetária ter que comprar dólar por um período mais longo para inibir a apreciação do real. Ontem, a moeda norte-americana chegou a ser cotada na mínima de R$ 2,569, antes de o BC aceitar 26 propostas para adquirir divisas no mercado à vista.

Pouco provável É pouco provável que o Copom intensifique o ritmo do aperto monetário para 0,75 ponto percentual na reunião que termina hoje, segundo o economista-chefe do banco Schahin, Cristiano Oliveira. Conforme entende, o Comitê deverá manter o ritmo de 0,50 ponto adotado nos últimos encontros. Para o economista, a recente desaceleração do Índice de Preço no Atacado (IPA), em parte explicada pela apreciação do real, sinaliza menor pressão sobre os preços ao consumidor (IPCs) nos próximos meses. ''O que justifica, em nossa visão, a manutenção do ritmo de alta dos juros''.

Os riscos Oliveira destaca como principal risco para a inflação futura evidências de que a demanda tem crescido de modo mais acelerado que a oferta agregada da economia - o chamado hiato do produto. Conforme simulações feitas pelo banco, o efeito de alterações na taxa de juros no hiato do produto tem defasagem de aproximadamente dois trimestres. Por outro lado, o efeito da expansão do crédito é praticamente imediato.

Apelação A indignação com a política monetária do Banco Central parece não ter limites. Força Sindical, CGT e dezenas de empresários resolveram fazer uma vigília durante a reunião de hoje na frente do prédio do BC, na avenida Paulista, em São Paulo. A manifestação contará com a participação de uma escola de samba, começará às 16 horas e terminará com uma grande queima de fogos quando for anunciada a nova taxa Selic. Durante o protesto os manifestantes vestirão camisa do bloco os ''Sem-Banco''.

Os ''Sem-Banco'' O protesto tem presenças confirmadas do presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Cláudio Vaz, o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), Synésio Batista, e o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado, Salomão Gawendo.

Confiança Uma pesquisa da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio) revelou que, quando o assunto é consumo, as mulheres são mais contidas e menos confiantes na política monetária. O levantamento feito em conjunto com a Fundação Getulio Vargas mostrou que enquanto os homens foram responsáveis pelo maior percentual de crescimento no otimismo, de 3,8%, as mulheres responderam por uma queda 1,2%.