Título: Pré-sal muda planos da Petrobras
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Fonte: Jornal do Brasil, 16/04/2008, Economia, p. A17

As descobertas abaixo da camada de sal deverão mudar o rumo dos investimentos da Petrobras, devido ao alto custo envolvido nos projetos de áreas recém-descobertas na Bacia de Santos. A conclusão é do novo diretor da Área Internacional da estatal, Jorge Zelada, ao confirmar que até mesmo os investimentos no exterior poderão ser reduzidos para reforçar o caixa da empresa, caso o potencial de acumulações como Tupi, Júpiter e Carioca ­ citado pelo diretor da Agência Nacional de Petróleo, haroldo Lima ­ sejam confirmadas. A revisão não deverá comprometer, no entanto, os esforços da companhia para ampliar a capacidade de refino no exterior, por meio de aquisições de ativos como a refinaria de Aruba, negociada atualmente com a americana Valero. A Petrobras prevê investir US$ 115 bilhões entre 2008 e 2012. Do total, US$ 15 bilhões serão voltados para a área internacional. A intenção da companhia é de ampliar a atual capacidade de refino no exterior dos atuais 150 mil barris/dia para 330 mil barris/dia até 2011. Ao todo, 25% dos investimentos serão destinados ao aumento da capacidade de refino da empresa no exterior, enquanto outros 70% visam a aumentar a produção de cru. Hoje, a Petrobras está presente em 27 países, dos quais os Estados Unidos respondem por 32% do total. A revisão dos projetos internacionais não deverá ocorrer devido apenas ao alto custo do chamado pré-sal. Zelada admitiu que a empresa deverá rever investimentos em países cuja rentabilidade não se adequar às metas traçadas. Um exemplo, de acordo com o executivo, é o Equador, cujo governo manifestou a intenção de aumentar a taxação de royalties sobre as operadoras estrangeiras de 50% para até 99% do total da produção. Embora tenha assegurado que a empresa ainda negocia com o governo de Rafael Correa uma solução de consenso, Zelada disse que a estatal teve de ir à Justiça equatoriana para baixar a cobrança para os atuais 90%. Ministério Público investiga Ontem, o executivo foi apre- sentado oficialmente como novo diretor da área Internacional da Petrobras, após quase um ano de negociações políticas para nomeá-lo. Indicado pelo PMDB, no bojo das conversas do partido com o Planalto para ocupação das estatais, o novo diretor teve a indicação articulada por um grupo liderado pelos deputados do PMDB Eduardo Cunha (RJ) e Fernando Diniz (MG). Ainda pouco à vontade no cargo, Zelada procurou evitar a polêmica em torno da acumulação batizada de Carioca, no pré-sal da Bacia de Santos, anunciada pelo diretor-geral da ANP, Haroldo Lima, como cinco vezes maior que o megacampo de Tupi, com capacidade para 33 bilhões de barris de óleo equivalente (boe). O anúncio provocou uma alta abrupta das ações da companhia, o que resultou em pedido de explicações pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Em comunicado divulgado ontem, a CVM esclarece que, quando há divulgação de informações sobre companhias abertas por pessoas que não façam parte de sua administração ou que não sejam seus porta-vozes, a instituição apura os atos da empresa. Segundo o documento, a autarquia ainda analisa os fatos. Já o Ministério Público Federal do Rio abriu procedimento administrativo para apurar as declarações de Haroldo Lima As declarações repercutiram ontem também no mercado acionário europeu, onde são negociados papéis de parceiras da Petrobras. Na Bolsa de Londres, a ação do BG Group valorizou-se 5,40%, e a Royal Dutch Shell subiu 1,69%. Já os papéis da espanhola Repsol-YPF foram os que mais se destacaram, com valorização de 9,28%. Será na África, no entanto, que a empresa começará a ampliar a produção atual de 245 mil barris diários no exterior. O diretor também anunciou que espera iniciar a produção nos campos de Agbami e Akpo, na Nigéria, entre o início do segundo semestre e o fim do ano. O primeiro, onde a companhia detém 13%, será responsável por uma produção de 30 mil barris diários. Em Akpo, onde a participação chega a 20%, a expectativa é ainda maior, de produzir 80 mil barris/dia.

Estatal confirma testes, mas não faz previsões BLOOMBERG A Petrobras não é capaz de confirmar se o campo de Carioca contém 33 bilhões de barris, disse José Sérgio Gabrielli, principal executivo da empresa. A estatal está atualmente fazendo perfurações a 3 mil metros de profundidade no campo de Carioca, disse Gabrielli ontem em entrevista concedida no Fórum Econômico Mundial de Cancún, no México. A empresa pretende fazer perfurações que alcançarão até 7 mil metros de profundidade. Haroldo Lima, diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) divulgou estimativa de 33 bilhões de barris de petróleo para o campo durante seminário realizado no Rio de Janeiro e disse que nenhuma informação oficial estava disponível sobre o campo de Carioca. ­ Nós não podemos confirmar essa estimativa ­ disse Gabrielli. ­ Nós estamos em um estágio muito inicial. Assim que concluirmos o processo de perfuração, teremos informações melhores. Gabrielli também disse que a Petrobras está "estudando" a compra da refinaria da Valero Energy Corp. em Aruba e que também está "analisando" a compra dos 50% restantes de uma refinaria que a empresa controla em Pasadena, no Texas, EUA.

Pelo menos três meses para calcular volume da reserva Rivadavia Severo O governo e a Petrobras pro- curaram negar, ontem, a notícia do megacampo de petróleo da estatal na Bacia de Santos que poderia chegar a 33 bilhões de barris, a maior descoberta dos últimos 30 anos no planeta. As explicações de autoridades governamentais reduziram a importância da especulação do diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Haroldo Lima. Ele mesmo negou que tenha anunciado a descoberta das reservas gigantes e o diretor de exploração e produção da estatal, Guilherme Estrella, disse que a empresa necessita de pelo menos três meses para confirmar o potencial do poço Carioca. ­ Em três meses talvez a gente possa ter as primeiras condições concretas de começar a pensar em estimativas. Estamos no processo de avaliação da descoberta, nos preparando para testar o poço e somente após o teste é que nós podemos iniciar a pensar nos volumes que estão lá relacionados ­ afirmou Estrella em audiência no Senado. Apesar dos desmentidos de ontem, o governo havia especulado, durante a divulgação da descoberta do Campo de Tupi, em novembro, que o potencial de óleo e gás na camada de pré-sal, a mesma do campo de Tupi, poderia chegar a um volume entre 50 a 70 bilhões de barris, se estendendo em uma área entre 800 quilômetros e 1.000 Km, desde o litoral do Estado do Espírito Santo, até Santa Catarina, o que colocaria o Brasil entre os 10 maiores detentores de reservas de petróleo. As reservas do Campo de Tupi estão estimadas entre 5 e 8 bilhões de barris que representam cerca da metade das atuais do país que são de 14 bilhões de barris. Depois da descoberta de Tupi, a Petrobras anunciou outro campo gigante, o de Júpiter, que poderia ter dimensões semelhantes ao de Tupi. E agora, fala-se deste megacampo nas proximidades dos outros dois. Os papéis da Petrobras mais uma vez foram muito negociados no pregão, sendo responsáveis por 40% de toda a movimentação. A ação preferencial da companhia petrolífera teve alta de 1,16%, e a ordinária, 0,68%. Ontem, haviam subido 7,67% (ON) e 5,62% (PN). A Bovespa fechou em alta de 0,75%. Ministro nega punição O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, tratou de colocar panos quentes no assunto e disse que o anúncio já havia sido retificado pela Petrobras e pelo próprio ministério no dia anterior. Já o Ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, reclamou do modo como foi anunciada a descoberta. Durante o debate sobre royalties do petróleo na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, os senadores governistas defenderam a revelação de Lima, enquanto a oposição bateu forte no anúncio do diretor. EXPLORAÇÃO ­ Gabrielli disse em Cancún que Petrobras faz perfurações a 3 mil metros de profundidade

Os papéis da empresa fecharam em alta de mais de 1% na Bovespa