Título: Clube da Aeronáutica faz ameaça
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 19/04/2008, País, p. A3

Brigadeiro exige que o governo deixe de pressionar general. Jobim: a crise está superada Os presidentes do Clube da Ae- ronáutica, tenente-brigadeiro Ivan Frota, e o presidente do Clube Militar, general de Exército Gilberto de Figueiredo, saíram, ontem, em defesa do comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno, que atacou a política indigenista do governo. Mais incisivo, Frota disse que se as pressões contra o oficial continuarem, "o país conhecerá o maior movimento de solidariedade militar". O brigadeiro distribuiu nota a integrantes das Forças Armadas durante o terceiro dia do seminário "Brasil, ameaças a sua soberania", na sede do Clube Militar do Rio, no qual o general Heleno fez as afirmações que deixaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva muito irritado e abriu uma crise. Frota disse que o discurso do general Heleno "representa a síntese do pensamento castrense atual" e criticou a atitude do presidente Lula de pedir esclarecimentos ao ministro da Defesa, Nelson Jobim. Ontem, Jobim reuniu-se com o general, ouviu suas ponderações, repassou-as ao presidente Lula. Ao final, declarou ­ A crise está superada. "Que o presidente não se atreva a tentar negar-lhe (ao general Heleno) o sagrado dever de defender a soberania e a integridade do Estado brasileiro (...). Caso se realize tal coação, o país conhecerá o maior movimento de solidariedade, partindo de todos os recantos deste imenso país, jamais ocorridos nos tempos modernos de nossa História", afirmou, em nota, o tenente-brigadeiro. Já o general do Exército Gilberto de Figueiredo, presidente do

Comandante esteve ministério, deu suas explicações, Lula foi informado e ficou encertou o assunto Deisi Rezende/AJB

PF de prontidão. Índios ameçam tirar os arrozeiros à força Vasconcelo Quadros BRASÍLIA A direção da Polícia Federal aler- tou, ontem, à noite, toda as superintendências regionais para o risco de eclosão de conflito na Reserva Raposa/Serra do Sol neste final de semana. Durante o dia, em solenidade no Palácio do Planalto, em resposta às críticas do comandante Militar da Amazônia, Augusto Heleno, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou a líderes indígenas que se empenhará pela manutenção do decreto que assinou em 2005 definindo a reserva de 1,7 milhão de hectares contínuos e não em ilhas como ameaça o Supremo Tribunal Federal (STF). O clima de tensão voltou à reserva, em Roraima, depois que o principal líder dos arrozeiros, o prefeito de Pacaraima, Paulo César Quartiero, e o deputado Márcio Junqueira (DEM-RR) estiveram na sede da Polícia Federal em Boa Vista para pedir segurança e denunciar um suposto plano dos índios ligados ao Conselho Indígena de Roraima (CIR) ­ entidade empenhada na defesa da homologação da reserva em área contínua ­ de fazer à força a retirada dos fazendeiros e da população não-índia da reserva dentro de 48 horas. ­ Não sabemos qual o nível de credibilidade da denúncia, mas as superintendências estão de sobreaviso ­ disse o delegado Fernando Segóvia, que coordena a Operação Upatakon III, suspensa na semana passada por liminar do ministro Ayres Britto, do STF, concedida numa ação cautelar impetrada pelo governo de Roraima pedindo a revisão do decreto que determina a demarcação em área contínua. O delegado admitiu que caso as ameaças se confirmem, há risco de violência generalizada na reserva. En CONFIANÇA ­ O macuxi Jaci José de Souza (E), ontem, no Planalto: Lula manter a reser va intacta ABr

Diretor da Fiesp reforça as críticas de Heleno Guilherme Botelho Encurralado pelo governo e pela cúpula do Exército, o general Augusto Heleno obteve ontem importante apoio logístico à sua guerra particular contra a demarcação da área da reserva indígena Raposa/Serra do Sol, em Roraima. O empresário Jairo Cândido, diretor do Departamento de Defesa da Federação das Indsustrias de São Paulo (Fiesp), cerrou fileiras com o general ao tachar de equivocado o projeto do governo. ­ Falando em nome da indústria, confirmo absolutamente as palavras de Augusto Heleno. Acho que a verdade às vezes dói. Odeio essa diferença entre sociedade civil e sociedade militar. Somos todos sociedade brasileira. Se o presidente não gostar do que eu falo, o problema é dele ­ atacou Cândido, no último dia do seminário Brasil, Ameaças a sua Soberania, oraganizado pelo Clube Militar do Rio de Janeiro. O empresário criticou a forma como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tratou o general Heleno. ­ Não se chama a atenção de um oficial do Exército dessa maneira ­ protestou. De acordo com Cândido, os empresários não se conformam com a maneira como a demarcação foi feita ­ Essa demarcação em faixa de fronteira é um absurdo. Quem já foi lá, de um certo ponto para cima, sabe que não há floresta, é só serrado. Vamos proteger serrado? O empresário citou alguns exemplos de desmando na região, entre os quais o fato de um estrada federal fechar durante a noite, para não atrapalhar a população indígena. Em outra palestra, o almirante Marcos Martins Torres queixou-se do atual orçamento das Forças Armadas. ­ Na América do Sul, temos condições de dissuadir. Já em questões que envolvam a disputa por água-doce ou petróleo, com grandes potências, estamos desenvolvendo alternativas. tre agentes federais e da Força Nacional de Segurança, a Polícia Federal conseguiria mobilizar imediatamente cerca de 350 homens para tentar garantir a segurança da região, o que seria insuficiente para controlar o contingente de guerreiros ligados ao CIR. Segundo cálculos da Funai e da Polícia Federal, esse grupo ­ braço do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), da Igreja Católica ­ representa cerca de 90% dos 18 mil índios distribuídos na reserva e nos últimos dias vem também vem denunciando supostas ações de violência dos arrozeiros. No início da noite de ontem, a Polícia Federal estava atrás de uma carta apócrifa atribuída ao CIR e distribuída durante uma manifestação que terminou em tumulto na Vila Surumu, no município de Pacaraima, no meio da tarde, envolvendo índios contra e a favor da demarcação. Policiais e agentes da Força Nacional conseguiram controlar o confronto e as agressões. O grupo ligado ao CIR anunciou para hoje, Dia do Índio, manifestações com mais de mil integrantes em Surumu e na sede do município de Uiramutã, na fronteira com a Guiana Inglesa, onde está instalado o 6º Batalhão Especial de Fronteira do Exército. A polícia teme que as comemorações possam desembocar em ações de violência. ­ O que nós sentimos aqui é que o presidente não vai abrir mão da demarcação ­ disse o líder macuxi Jaci José de Souza durante a solenidade no Palácio do Planalto. ­ Nós também defendemos a faixa de fronteira. Não é o que general disse ­ afirmou o vice-presidente da Coordenação das Organizações Indígenas Brasileiras, Marco Aporinan, ao contestar as declarações do general Augusto Heleno. Lula disse que vai se empenhar pessoalmente para sustentar junto ao STF o decreto.

Que o presidente não se atreva a tentar negar-lhe (ao general Heleno) o sagrado dever de defender a soberania e a integridade do Estado brasileiro (...). Caso se realize tal coação, o país conhecerá o maior movimento de solidariedade, partindo de todos os recantos deste imenso país

" Tenente-brigadeiro Silvio Frota presidente do Clube da Aeronáutica Clube Militar, afirmou que as crí- ticas do general Heleno não ferem nenhuma hierarquia ou disciplina. ­ Acho que ele (o presidente Lula) não entendeu o que aconteceu. O general Heleno falou sobre algo de sua responsabilidade. Não é de hoje que essa área é polêmica ­ afirmou. "A observação do general Heleno foi fruto da angústia de alguém que observa no próprio local a situação aflitiva de algumas comunidades. [...] A política indigenista, todos sabem, está longe de ser consensual, inclusive dentro do governo Lula", acrescentou Figueiredo na nota que também distribuiu. Para Figueiredo, o presidente adotou um tratamento diferenciado ao cobrar explicações do general Heleno, já que ele não questiona os ministros que contestam a política econômica do governo. "É estranho o presidente da República pedir explicações sobre o caso. Não me consta que tenha adotado o mesmo procedimento quando ministros do seu partido contestam publicamente a política econômica do governo", escreveu Figueiredo. O general elogiou a política econômica e condenou ações eleitorais. "Aliás, (a política econômica é) uma das poucas coisas que está funcionando coerentemente nessa época em que atitudes voltadas para produzir impacto em palanque são mais importantes do que a ética e a moralidade na condução das gestões políticas", assinalou. Presente no seminário, o almirante Marcos Martins Torres, chefe do Estado-Maior de Defesa, não quis comentar de Lula.