Título: Fotos de tortura reabriram discussão
Autor: Karla Correia
Fonte: Jornal do Brasil, 25/01/2005, País, p. A6
A polêmica sobre o acesso a documentos sigilosos da ditadura militar ganhou força em outubro passado, com a divulgação, no Correio Braziliense, de supostas fotos, em situação de tortura, do jornalista Wladmir Herzog, morto nas dependências do DOI-Codi em 1975. Mais tarde, o governo informou que as fotos seriam do padre canadense Léopold D'Astous, seqüestrado pelas forças da repressão em 1973.
A morte de Herzog é visto como um símbolo da violência oficial durante a ditadura e mobilizou a sociedade paulista em grande ato ecumênico celebrado na Praça da Sé depois da morte do jornalista. A comprovação de que as fotos não seriam de Herzog não esfriou a discussão sobre a tortura e a pressão da sociedade pela abertura de arquivos sigilosos do período.
''As medidas tomadas pelas Forças Legais foram uma legítima resposta à violência dos que recusaram o diálogo e optaram pelo radicalismo'', afirmaram em nota oficial as Forças Armadas em resposta à divulgação das fotos.
O pronunciamento gerou uma crise institucional que conduziu ao pedido de demissão do então ministro da Defesa, José Viegas.
Pouco depois, o agente de inteligência militar que forneceu as supostas fotografias de Herzog, José Alves Firmino, revelou que serviços de inteligência das Forças Armadas continuaram a espionar clandestinamente partidos de esquerda, políticos, sindicatos e movimentos sociais até meados da década de 90, anos depois da redemocratização do país.
Na seqüência, denúncias comprovadas sobre a destruição de arquivos da ditadura militar na Base Aérea de Salvador e em outros estados contribuiram para a decisão do Palácio do Planalto de intervir no assunto. Em dezembro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva editou decreto e medida provisória que diminuíram os prazos de liberação do acesso a documentos oficiais ultra-secretos.