Título: Brasil tem hoje 3.800 refugiados de 72 países
Autor: Vieira, Pedro
Fonte: Jornal do Brasil, 20/04/2008, País, p. A2

Colombiano diz que não há escolha de ficar em seu país

O colombiano Rubén Darío García Montoya ainda hesita em falar sobre os motivos que o levaram a deixar para trás família, amigos e carreira em Bogotá e vir para o Brasil como refugiado. Limita-se a mencionar intolerância sexual e perseguição em seu país de origem e explica que optou pelo Brasil por conta da avançada legislação sobre refugiados e a impressão de estar seguindo para um país mais "tranqüilo".

A imagem de ilha de paz e tolerância do Brasil e as facilidades garantidas por uma legislação generosa e amadurecida em relação aos refugiados colaborou para atrair cerca de 3.800 refugiados de 72 nacionalidades diferentes hoje vivendo no País, que oferece um novo lar para 42% dos estrangeiros que postulam refúgio a cada ano ¿ os dados não contabilizam os imigrantes clandestinos que não passam pelo contabilidades dos entidades assistenciais e do próprio governo. Mas a realidade encontrada em solo brasileiro pode ser bem mais dura do que os refugiados esperam, ao desembarcar no país.

Idioma, a dificuldade

A barreira do idioma e a dificuldade de se integrar a um mercado de trabalho competitivo e ainda marcado pelo desemprego são os principais obstáculos enfrentados pelos refugiados, acredita Montoya, hoje empregado em uma operadora de telefonia móvel, professor de português para estrangeiros e administrador de um site (www.refugiadosbrasil.org) que busca apoio de empresas para vacilitar a colocação profissional de refugiados.

¿ Tenho um amigo iraquiano que é especialista na área de petróleo, o problema é que ele só sabe falar inglês e árabe, mas ninguém aproveita o potencial dele ¿ conta o colombiano. Segundo ele, as empresas ainda vêem com reservas o profissional refugiado ¿ muitas vezes somos vistos como fugitivos da lei, existe aquela impressão de que quem não saiu de um país em guerra, deixou sua pátria por ter algo a esconder. Mas na verdade saímos do nosso país porque não temos mais escolha.

Africanos são maioria

Reflexos de guerras e conflitos étnicos ainda são os motivos que mais trazem refugiados para o Brasil. De acordo com o porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), Luiz Fernando Godinho, angolanos, congoleses e moçambicanos são os três maiores grupos de refugiados no País, representando 80% dos pedidos de refúgio ao governo brasileiro. Parte do orçamento do Acnur se destina ao pagamento de auxílio de custos aos refugiados admitidos no País que ainda não conseguiram emprego.

O organismo atua em convênio com a Cáritas, organização não-governamental ligada à Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que se encarrega do contato direto com os refugiados, providenciando curso de português, repassando o auxílio financeiro e dando apoio na busca de emprego e moradia. Essa ajuda dura de três a seis meses e serve para bancar as necessidades básicas de alimentação e transporte do estrangeiro.

¿ No momento em que o refugiado chega, é necessário integrá-lo na sociedade brasileira e o primeiro problema a solucionar é a questão do idioma - explica o diretor do escritório da Cáritas no Rio de Janeiro, Cândido Feliciano da Ponte Neto ¿ a maioria dos refugiados acabam se sustentando porque se integram no mercado. Caso contrário temos uma rede de convênios que apóiam o estrangeiro.

O porta-voz da Acnur, Luiz Fernando Godinho, admite que a dificuldade em encontrar empregos é hoje um dos maiores obstáculos para adaptação dos refugiados. Segundo ele, a legislação brasileira, considerada uma das mais avançadas do mundo na questão dos refugiados, não prevê nenhum tipo de incentivo à contratação de estrangeiros no País. Os refugiados, explica Godinho, entram no mercado de trabalho em condições de igualdade com os brasileiros, o que, por conta da barreira idiomática, pode ser um contratempo na hora de conseguir meios para se sustentar.

¿ Mas não é essa a função da lei de refugiados, cujo principal objetivo é garantir proteção legal e impedir que essas pessoas sejam devolvidas a seus países, em caso de risco de vida ¿ observa ¿ as dificuldades enfrentadas variam de acordo com a capacidade de adaptação dos refugiados. Nós damos o suporte