Título: Sem candidato, Partido Liberal é uma incógnita
Autor: Arêas, Camila
Fonte: Jornal do Brasil, 20/04/2008, Internacional, p. A28
Sem candidato à Presidência, o Partido Liberal, protagonista de 60 anos de oposição ao Partido Colorado, deixará de ser a segunda força dominante da política paraguaia pela primeira vez na História. O analista Antonio Carmona, que aponta a mudança como "divisora de águas", diz que é cedo para avaliar seu impacto:
¿ É preciso esperar passarem as eleições para analisar friamente esta aposta, porque quando uma legenda centenária como a liberal decide abandonar a ambição política de governar é realmente uma decisão que não se pode julgar com antecedência.
O analista avalia que lançar seu melhor nome como vice-presidente na chapa de Lugo foi uma estratégia delicada:
¿ O partido vai depender de sua representação no Parlamento, que também não será grande, porque a estará dividindo com os outros partidos da Aliança. Com Lugo perdendo ou ganhando, vão se dar conta de que não são mais a segunda força. Terão de repensar suas posições e estratégias políticas.
Outros partidos tradicionais, que chegaram a ser quarta e quinta força nacional ¿ como o Encontro Nacional e o Pais Solidária, que hoje têm três senadores cada ¿ correm o risco de não eleger ninguém. O único que se mantém como terceiro partido de peso na cena eleitoral é o Unace, de Oviedo. E como a legenda nasceu de uma subdivisão do Partido Colorado, "poderia formar com os colorados uma maioria absoluta", prevê Carmona:
¿ Ao contrário do que se pensa, a primeira prejudicada com tal maioria seria a própria Blanca. Ela ficaria debilitada frente à força dos caciques de ambos os partidos, perdendo força de negociação.
Ineditismo
No outro lado da balança, a inclusão de movimentos de esquerda nas Casas Legislativas prima pelo ineditismo. Esquerdistas "ao estilo anos 70, os chavistas e castristas do P-MAS, redescobriram que a oposição radical é rentável no país", descreve Milda Rivarola:
¿ A oposição sempre foi bem comportada, fazendo pactos de governabilidade. De repente, o P-MAS entrou com radicalismo e se posicionou fortemente no cenário político. Os colorados estão brigando com eles. Pela primeira vez, demandas de esquerda saíram debaixo do tapete da campanha.
O surgimento do discurso ideológico como tema central de campanha é "o melhor sinal da crise de modelo político pela qual estamos passando", ilustra AlejandroVial:
¿ Se romperam as formas de políticas existentes. Por isso, é quase irrelevante se ganha Blanca ou Lugo. Há uma crise séria que não vai se recompor facilmente.
Lugo tem a preferência do eleitorado nas zonas com maior peso eleitoral, como na Capital e Grande Assunção, que concentram 40% dos votos. Lino Oviedo é vencedor no Alto Paraná e o Partido Colorado leva a zona Norte do país. Mas, no panorama geral, Lugo soma cerca de 5% de vantagem sobre os concorrentes em todo o país.