Título: Evo Morales é guia para autonomia aimara
Autor: Arêas , Camila
Fonte: Jornal do Brasil, 27/04/2008, Internacional, p. A27
Apenas 146 km separam a cidade de Puno da Bolívia. A altitude é a mesma. Na paisagem, o Lago Titicaca. No poder, está a concretização do ideal da nação aimara, que ultrapassa a fronteira: Evo Morales, um índio aimara na Presidência da Bolívia. Um retrato que contrasta com o quadro peruano. Social-democrata e popular entre os homens de negócio, o presidente Alan García assinou um Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos em dezembro.
Evo deu um matiz diferente ao movimento autonomista de Puno. Alguns propõem a criação de um Estado aimara supranacional. Outros se empenham em construir um instrumento político que os leve a ocupar postos do governo. A presença de representantes do partido oficialista boliviano MAS nos eventos políticos de Puno se tornou uma constante.
Cultura supranacional
A "relação com a Bolívia é ancestral", diz Marcial Maydana, explicando o que o movimento aimara "reivindica o nacionalismo para restaurar as condições econômicas e sociais de seus antepassados":
¿ Temos territórios integrados pela nossa cultura. É um nacionalismo milenar que se estende do Equador e nos une à Bolívia. Na Alba, encontramos a expressão dos nossos ancestrais, nela está nossa identificação com a reciprocidade. Trata-se de buscar justiça social, solidariedade fora do sistema ocidental de mercado, longe do TLC.
Dos 1,2 milhão de habitantes de Puno, 400 mil são aimaras. E de cada 10 habitantes, oito são pobres. Ponce descreve o embate entre "um país legal e outro real":
¿ O Estado impõe sua ordem, sua lei, mas não oferece nada. Não há ministérios, não há Justiça, e a riqueza nacional não é sentida. Os aimaras são autonomistas por natureza, têm lei e organização próprios, por isso reivindicam a presença de um Estado que respeite esta independência, mas presente quando necessário.
O analista conta que o aimara é empreendedor, "quer participar da economia, mas como as vias estão fechadas, termina na violência":
¿ Só há um banco agrário em toda a região Sul. Não há crédito para os indígenas. A economia de mercado de García não chega aqui. Do outro lado está Evo, cujo modelo econômico se pauta nos ideais incas, distante dos interesses globalizantes.
Ingerência
O jornal boliviano La Nación denunciou, mês passado, que ex-reservistas e licenciados do Exército do Peru receberam treinamento militar por três semanas na Polícia Militar de La Paz e retornaram ao Peru por Puno. Na época, foi encontrado na casa Alba um cheque passado pela Venezuela a Puno para financiar a viagem de 12 integrantes da CCB.
"Um ditador anão com uma grande carteira", assim García se refere a Hugo Chávez, com quem comprou uma briga desde que viu Ollanta Humala ser financiado com 600 mil petrodólares. Evo, por sua vez, disse que "o Peru vai se integrar à Alba nas próximas eleições".
O confronto internacional é reverberado internamente pelo presidente regional de Puno, Hernan Fuentes, que mandou Garcia estabelecer seu escritório nos EUA, dizendo que o presidente não é bem- vindo em Puno. Em resposta, ouviu que se gosta tanto de Chávez, é ele quem deve se mudar a Venezuela