Título: Lula defende petróleo verde
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Fonte: Jornal do Brasil, 21/04/2008, Economia, p. A17

Em reunião da ONU na África, presidente destaca as vantagens da produção de biodiesel.

A passagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por Gana, para a abertura da 12ª reunião da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), acendeu ainda mais a polêmica sobre a crise mundial de alimentos. Em seu discurso de abertura, Lula voltou a sustentar que a alta de preços de alimentos não é causada pelos biocombustíveis. E que não há contradição entre essa fonte de energia e segurança alimentar.

Em contrapartida, atacou os subsídios milionários pagos pelos pelos países ricos e os classificou como uma droga que entorpece e vicia seus próprios produtores, mas cujas maiores vítimas são os agricultores das nações mais pobres. Para ele, o ideal seria que os países desenvolvidos abrissem mão desse mecanismo de proteção e facilitassem a entrada de produtos agrícolas de países pobres.

Lula apresentou o biocombustível, que ele chamou de "petróleo verde", como a possibilidade concreta de melhorar a condição econômica dos países mais pobres. Como exemplo, Lula citou que os níveis de desnutrição caíram no Brasil ao mesmo tempo em que aumentou a produção e o uso do etanol.

¿ Não estamos querendo brigar com ninguém. Estamos dizendo ao mundo que nós, países emergentes, temos a solução que vocês tanto discutem na academia ¿ afirmou ao defender a necessidade de usar as terras disponíveis da África e América Latina para plantação voltada aos biocombustíveis. ¿ O petróleo verde, que pode ser obtido cavando um buraco e plantando uma pequena semente, que brota meses depois é um produto não poluente, gerador de emprego. E essa atividade representa uma oportunidade que se dará aos países que não tiveram chance de desenvolvimento no século 20.

Lula observou que, até agora, países desenvolvidos fizeram muito pouco para cumprir o protocolo. Mesmo assim, exigem dos países pobres o fim do desmatamento. De acordo com ele, o Brasil quer preservar florestas e matas não só pensando na floresta, mas também na biodiversidade.

Único chefe de Estado estrangeiro a discursar na abertura da reunião, Lula convocou os países mais ricos a fazerem sua parte no âmbito da atual rodada de negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), a Rodada Doha que está em fase final.

¿ Alcançar êxito nas negociações da Rodada Doha da OMC tornou-se uma tarefa inadiável. Os subsídios milionários pagos pelo tesouro dos países ricos são como uma droga que entorpece e vicia seus próprios produtores, mas cujas maiores vítimas são os agricultores das nações mais pobres ¿ defendeu Lula.

Para ele, o ideal seria que os países desenvolvidos abrissem mão desse mecanismo de proteção e facilitassem a entrada de produtos agrícolas de países pobres.

¿ É preciso estar alerta contra a tentação dos países ricos em acentuarem ainda mais suas práticas protecionistas. Igualmente prejudiciais são as tentativas de perpetuar relações de dependência através da criação de entraves à expansão do comércio Sul-Sul ¿ disse Lula.

O presidente citou o G20, grupo de países em desenvolvimento liderados pelo Brasil e pela Índia, como exemplo de relações Sul-Sul, frisou que é cada vez maior o intercâmbio comercial entre os países em desenvolvimento e alertou para a tentativa das nações ricas de impedir o aprofundamento dessa parceria.

Pela manhã, Lula visitou a Brasil House, casa localizada no bairro da comunidade Tabom, de descendentes de africanos que foram levados ao Brasil como escravos. Em seguida, o presidente inaugurou o escritório da Embrapa, onde voltou à defesa da produção de biodiesel.

¿ Acusam o Brasil de querer desmatar a Amazônia. Agora, culpam os biocombustíveis pelo aumento do preço dos alimentos. Eu não imaginava que teríamos tantos adversários no mundo desenvolvido quando fizemos a proposta de biodiesel. Afinal de contas, o mundo todo está de acordo que é preciso reduzir o aquecimento do planeta e as emissões de CO2 ¿ relembrou.

O presidente observou também que o fato de o país ser auto-suficiente em petróleo não altera em nada o tratamento dado aos biocombustíveis.

¿ O Brasil é auto-suficiente em petróleo, será um dos grandes produtores de petróleo do mundo e isso não vai reduzir nossa disposição de investir em biocombustíveis para que eles sejam misturados ao petróleo ¿ concluiu.