Título: Pai do biodiesel põe culpa nos EUA
Autor: Dantas, Claudia
Fonte: Jornal do Brasil, 21/04/2008, Economia, p. A18

Para Expedito Parente, usar mais da metade do milho americano em combustível é uma temer

O criador do biodiesel, Expedito Parente, não está preocupado com títulos, honras ao mérito ou projeção. Depois de anos sem reconhecimento, o engenheiro químico que criou o biodiesel em 1977, e chegou a ser taxado de louco, considera a questão dos biocombustíveis fundamental para a limpeza e a recuperação do planeta e discorda totalmente da posição da Organização das Nações Unidas (ONU), que classificou a produção mundial de biocombustíveis como um "crime contra a humanidade".

Para o atual presidente da TecBio, empresa pioneira no desenvolvimento de tecnologia de biodiesel e bioquerosene no país, toda esta polêmica surgiu porque mais da metade da produção de milho dos americanos é destinada aos biocombustíveis, e isto sim é uma temeridade, diz.

Parente explica que o milho colhido nos Estados Unidos é usado para produzir mais de 100 tipos de alimentos, além de ração de animal, leite e derivados, e como são uma economia importante e representativa no contexto mundial, a decisão americana pode provocar alta de inflação no setor de alimentos em nível global.

¿ O Brasil não tem nada a ver com a história, é vítima. Os Estados Unidos quiseram desviar a atenção da ONU trazendo o foco para a produção brasileira de biocombustíveis, mas não produzimos combustível de milho, produzimos álcool da cana-de-açúcar e nunca faltou açúcar na mesa do brasileiro ¿ destaca o também ex-professor da Universidade Federal do Ceará.

Hoje, a descoberta do biodiesel é de domínio público. Embora a fórmula tenha sido patenteada em 1980, Parente não é mais considerado, oficialmente, o autor da idéia. Depois de 10 anos sem uso, a patente passa a ser pública.

Mas isso não o intimidou. Ao contrário, o incentivou a tornar-se um defensor incansável dos biocombustíveis, em especial da produção de biodiesel no país e no mundo. O engenheiro explica que, por meio da fabricação do produto, o planeta consegue diminuir a ação do efeito estufa, além de conseguir atingir outras benesses, no âmbito social e estratégico.

Segundo Parente, o diesel sozinho emite uma fuligem responsável por matar mais pessoas de turberculose do que de Aids. Contudo, a cadeia produtiva do biodiesel tem condições de seqüestrar o CO2 da natureza, e cerca de 25% desta produção anula totalmente o efeito da fuligem nas pessoas.

No aspecto social, o engenheiro acredita que a cultura das sementes que vão, futuramente, produzir o biodiesel ¿ mamona, girassol, babaçu, côco ¿ podem retirar da miséria e da fome quase 500 milhões de pessoas que vivem nos campos, em todo o mundo, de acordo com a ONU. Só no Brasil, deste total 8% vive em estado de miséria absoluta nas regiões Norte e Nordeste.

¿ A agricultura familiar vai propiciar aumento de emprego e renda e garantir a inclusão social desta população ¿ defende Parente.

O engenheiro constata, ainda, que a terceira missão do biodiesel é estratégica e tem relação com a era celular. Parente ressalta que o petróleo é finito e o consumo desta commodity aumenta a cada ano, e quando o produto acabar, seremos pegos de calças curtas, analisa.

¿ Não estou preocupado com títulos, prêmios ou a patente que perdi. Já ganhei muitos prêmios e hoje sou reconhecido como o pai do biodiesel no Brasil e no mundo ¿ resume Parente. ¿ Minha vida não é um retrovisor, não olho para trás, olho para frente, e me sinto muito mais responsável em defender essa causa nobre, que é recuperar o planeta, e ampliar as possibilidades de emprego e renda para as pessoas.