Título: Bolsa Família perde poder aquisitivo
Autor: Lorenzi, Sabrina
Fonte: Jornal do Brasil, 21/04/2008, Economia, p. A19

Desde maio de 2007, reajuste médio dos produtos básicos chega a 40%, segundo IBGE.

Desde o último reajuste concedido pelo governo para o valor pago pelo Bolsa Família, em maio do ano passado, que a disparada da inflação dos alimentos está golpeando em cheio o orçamento das cerca de 11 mil famílias beneficiadas pelo programa. Segundo levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desde junho, mês seguinte ao reajuste, os preços de feijão, arroz, carne, macarrão, leite, pão, biscoitos e óleo de soja sofreram um reajuste médio de 40% e reduziram o poder de compra dessa fatia da população.

Um exemplo é o óleo de soja que já virou artigo de luxo para quem depende do Bolsa Família. De acordo com o IBGE, o produto está 53,5% mais caro desde junho, um mês depois que o valor do Bolsa-Família que Kátia Alves recebe do governo federal passou de R$ 95 para R$ 112 por mês.

¿ Faz algum tempo que nós só comemos ensopado. Muita sopa porque não está dando para fritar nada ¿ conta a faxineira Kátia Alves, que cuida sozinha de cinco filhos.

Para dar feijão aos filhos de vez em quando, Kátia aumentou a jornada de trabalho. O feijão preto encareceu 129,3% depois do reajuste dado ao Bolsa Família. Um quilo custa R$ 4 no mercadinho mais próximo da casa de Kátia. Antes do aumento, a família comprava de quatro a cinco quilos do alimento por mês. Da cozinha, a filha mais velha grita para a reportagem deste jornal: "Mãe, a gente não tem comprado nem um quilo por mês de feijão!".

¿ A sorte é que faço bolo. Mas tem que ser de fubá, porque a farinha de trigo está cara ¿ diz Kátia.

O pão 1que já está 4% mais caro não cabe no orçamento.

¿ Pão aqui só tem quando madame dá pão duro. Aí a gente esquenta ¿ conta Rosiane Silva, mãe de seis filhos, que como Kátia, trocou o leite por suco.

O leite, segundo o INPC, encareceu 6,35% desde junho. Até o macarrão, que salva a família de Rosiane no momento em que não há arroz nem feijão, subiu 11,8%.

A alta dos preços dos alimentos, infelizmente, tende a continuar, segundo André Braz, pesquisador de preços da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O arroz sofre pressão maior por causa das fracas safras no resto do mundo. E a China, que consome muito arroz, tende a jogar o preço do produto nas alturas, tanto que os produtores brasileiros já começaram a se interessar nas exportações.

A China também pressionou o preço da soja, cuja cotação disparou no mercado internacional. Constituídas por soja e milho, as rações para animais, mais caras, podem estar afetando os preços da carne, que voltaram a subir, segundo a FGV.

¿ As famílias de baixa renda estão com o custo de vida mais afetado ¿ diz André Braz. ¿ Por enquanto, essa pressão deve continuar.

Para compensar as perdas e completar o orçamento, Kátia e Rosiane passaram a trabalhar por mais tempo. Rosiane lava mais roupa para fora. Kátia também se vira com artesanato e exibe chaveiros em forma de coração que vende por R$ 3.