Título: FMI: pior da crise ainda está por vir
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Fonte: Jornal do Brasil, 19/04/2008, Economia, p. A17
Strauss-Kahn mantém ataque aos biocombustíveis. Brasil pede que Fundo combata subsídios
Paris
O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, teme que "o pior" ainda esteja por vir nos distúrbios causados pela crise de alimentos em países pobres. Além disso, ele pediu que seja replantada a produção de biocombustíveis feita com produtos agrícolas que servem para a alimentação.
¿ Quando se faz biocombustíveis de produtos agrícolas não usados na alimentação, tudo bem. Mas quando se faz com produtos alimentícios, isso representa um grave problema moral. Nas revoltas da fome, o pior, infelizmente, talvez esteja à frente de nós ¿ disse Strauss-Kahn à rádio Europe 1.
Segundo o dirigente do FMI, "centenas de milhares de pessoas vão ser afetadas". Strauss-Kahn disse ainda que além da fome e dos riscos de crise de fome, está "a desnutrição" e ressaltou que as crianças mal-alimentadas carregam as seqüelas durante "toda sua vida".
¿ É extremamente grave. O planeta deve enfrentar isso ¿ afirmou Strauss-Kahn, que reiterou sua recente afirmação de que a crise atual pode levar a "guerras".
Ele afirmou que "não se trata de assustar, mas de ver a realidade" e explicou que, quando há situações "tão dramáticas", a população critica seus governos, embora tenham feito o que puderam, e podem fazer cair Executivos democraticamente eleitos.
¿ A história está cheia de guerras que começaram por causa de problemas deste tipo ¿ concluiu.
Reação brasileira
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, rebateu ontem as sucessivas críticas de que a produção de biocombustíveis seria responsável pelo aumento dos preços dos alimentos. Disse que os subsídios e barreiras agrícolas das nações ricas são as principais causas da falta de alimentos nos países pobres.
Respondendo claramente às declarações feitas pelo diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, de que os biocombustíveis criam um problema moral para a humanidade e que encarecem os alimentos, Amorim pediu o fim dos subsídios para melhorar a produção dos alimentos nos países pobres.
¿ O que prejudica a produção de alimentos nos países pobres, vamos ser claros, é a existência de subsídios e das barreiras nos países ricos ¿ afirmou Amorim, depois de assinar termos de cooperação com o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o senegalês Jacques Diouf.
¿ Se o diretor-geral do FMI e o presidente do Banco Mundial querem dar uma recomendação que realmente melhore a produção de alimentos nesses países, deveriam dizer o seguinte: em vez de reduzir (os subsídios agrícolas) para US$ 14 bilhões nos Estados Unidos ou para US$ 20 bilhões na Europa, reduzam a zero ¿ complementou o ministro.
Amorim afirmou que o Brasil, que produz etanol a partir da cana-de-açúcar, é a prova de que os biocombustíveis não comprometem a produção de alimentos. Segundo ele, a produção de etanol aumentou junto com a produção de alimentos e pode ser uma "redenção" para países africanos e latino-americanos.
¿ Se o FMI puder ajudar para que países africanos e países latino-americanos mais pobres possam produzir biocombustíveis, que entrem sem barreiras nos países ricos, eles estarão ajudando a renda desses países, e é com renda que se obtém alimentos ¿ sugeriu.
Amorim classificou de simplistas conclusões sobre a produção de biocombustíveis e que teriam como base preocupação protecionista.
-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 19/04/2008 01:34