Título: Colorados conduzem civis às urnas
Autor: Arêas, Camila
Fonte: Jornal do Brasil, 19/04/2008, Internacional, p. A21

Partido faz lista de funcionários públicos para vigiar quem vota para a Presidência amanhã

Camila Arêas

Assunção

A eleição presidencial de amanhã no Paraguai é, sem dúvida, a oportunidade mais clara dos últimos anos de a oposição chegar ao poder. Mas a força de mobilização do Partido Colorado ainda é inabalável, a começar pela enorme máquina do Estado. Cinquenta ônibus estão trazendo mais de 3 mil paraguaios colorados para votar. Em menos de três meses, o presidente, Nicanor Duarte Frutos, nomeou mais de 120 pessoas para os ministérios de Obras Públicas, Agricultura e Relações Exteriores. Depois de pesadas críticas da imprensa, simplesmente tirou da internet os informes que atualizam os novos contratos.

O partido só consegue manter a unidade "pela disponibilidade de cargos públicos que conta como moeda de troca", ilustra o sociólogo Luis Fretes:

¿ Exatamente por isso, uma eventual derrota no pleito de amanhã significaria seu colapso.

Na semana às vésperas do pleito, choveram denúncias do que a oposição chama de fraude pré-eleitoral. O dirigente do sindicato União Nacional de Educadores denunciou, na quarta-feira, que mais de 2 mil professores "estão suportando coação e chantagem para votar pelo Partido Colorado". Caso se neguem, correm o risco de perder o cargo. No mesmo dia, o ministro da Agricultura, Alfredo Molinas, encabeçou um ato colorado com seus funcionários em pleno horário de trabalho. Dias antes, policiais de várias unidades da capital foram convocados a participar de uma reunião com o ministro do Interior, Libio Florentín, que os pressionou a votar na legenda oficialista. Entre os prêmios oferecidos para comparecer aos atos de campanha estão dinheiro, motos, celulares e eletrodomésticos.

Vacinado, o jornalista Carlos Peralto subestima os fatos:

¿ Isto é normal, não é mal visto. E não garante nada porque ninguém vai saber qual foi o voto na urna. É mais um jogo perverso de ameaças.

Sob o título Participação-Sufrágio-Controle-Sistema de Trabalho, um documento de 11 páginas que foi distribuído a todos os dirigentes colorados do país ensina passo a passo como controlar o comparecimento dos funcionários públicos às urnas de votação. Segundo a cartilha, reproduzida por alguns jornais paraguaios, existem 121.894 funcionários de Estado paraguaios ¿ o que representa 66% do funcionalismo público. O chefe de determinada instituição pública elabora uma lista de todos os seus funcionários, incluindo telefone e e-mail. O trabalhador, além de seus dados, deve também informar o de todos os seus parentes em idade de votar, seus respectivos endereços e carteiras de identidade.

O objetivo do esquema é fazer votar 90% do funcionalismo e pelo menos mais cinco de seus parentes. Entre as ofertas prometidas pelo partido em troca do comparecimento às urnas estão implementar sua carreira administrativa e incorporá-los ao sistema de seguro médico.

O candidato que aparece mais bem colocado nas pesquisas, o progressista Fernando Lugo, e o terceiro colocado, o ex-general Lino Oviedo, afirmaram várias vezes que não vão tolerar fraude.

¿ Se ganhar outra pessoa que não eu não será milagre, será fraude ¿ chegou a dizer o ex-bispo.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 19/04/2008 01:44