Título: Dentição do brasileiro preocupa
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 25/01/2005, Saúde e Ciência, p. A12

Fala-se muito que a situação da saúde no Brasil é precária, mas a bucal recebe pouca atenção diante da gravidade do panorama. Dados do Ministério da Saúde, de 2004, afirmam que 8 milhões de brasileiros não têm nenhum dente. E dos que têm algum dente faltando, 30 milhões não possuem nem prótese. O odontologista Salvador Nunes Gentil, presidente do 23º Congresso Internacional de Odontologia, realizado no Parque de Exposições do Anhembi, em São Paulo, atribui o problema à exclusão social no país, que faz com que de 30% a 40% da população nunca tenham sentado em uma cadeira de dentista. Cerca de 51 mil pessoas, de 120 países, participam do encontro. As pessoas de baixa renda têm como obstáculo o pouco acesso às informações, mesmo as mais simples, sobre higiene bucal. Muitas vezes faltam, também, condições de seguir normas básicas, como o uso diário do fio dental e a troca da escova de dentes a cada 2 meses. A falta de atenção com a saúde da bucal, além de causar cáries, dor e a perda de dentes, pode ter efeitos mais graves como o surgimento do câncer de boca. A estimativa oficial do INCA (Instituto Nacional do Câncer) é que em 2005 surjam 14 mil novos casos desse tipo de doença, dos quais 3 mil serão mortais. De acordo com o dentista Celso Augusto Lemos, especializado em estomatologia (área que cuida do diagnóstico das doenças da boca) o perfil no Brasil é o mesmo há 40 anos: 80% dos casos são detectados tardiamente. - Este câncer se for notado cedo, tem quase 100% de chance de cura. Ou seja, a prevenção é fundamental. Celso coordena, no congresso, a Campanha de Prevenção e Detecção Precoce do Câncer Bucal, fazendo exames para detectar qualquer indício. O encontro, que começou no domingo e vai até quinta-feira, é totalmente aberto ao público e pretende atender 4 mil pessoas. Além de realizar o exame de prevenção, a campanha também ensina a pessoa a fazer o auto-exame, e encaminha os possíveis casos de tumores malignos para tratamento. Para quem não puder comparecer ao Congresso de Odontologia, basta procurar unidades do SUS (Sistema Único de Saúde) que tenham profissionais especializados para realizar o exame preventivo e se necessário fazer uma biópsia, quando se retira uma parte do tecido. Mas o estomatologista explica que qualquer pessoa pode fazer o auto-exame, é necessário apenas um espelho: - Basta olhar atentamente para o céu da boca, para a parte interna e externa dos lábios, para a língua e assoalho da boca, verificando se há alguma lesão esbranquiçada, caroço ou ferida que não cicatriza por mais de 15 dias. É importante dizer também que o câncer de boca só dói quando já está em um estágio muito avançado - afirma Celso. Alguns hábitos podem aumentar muito o risco da doença, como expor sistematicamente os lábios ao sol sem proteção, já que os raios ultravioleta são altamente cancerígenos. Além disso os fumantes têm cinco vezes mais chance de ter câncer bucal do que quem não fuma. As chances para quem bebe são duas vezes maiores. Juntando-se os dois fatores, os riscos aumentam cem vezes. - No estado de Utah, nos Estados Unidos, a incidência de câncer de boca é muito baixa porque ali a religião majoritária é mórmon, na qual não se permite nem fumar, nem beber - conta o estomatologista. O congresso não está realizando apenas a campanha preventiva, mas traz também novidades em tecnologia, estética e projetos científicos com 300 estandes nacionais e 120 internacionais. Estão sendo ministradas palestras de odontologia e workshops, no maior do mundo nessa área. O primeiro programa do governo nacional em saúde bucal foi lançado em março do ano passado e foi denominado de ''Brasil Sorridente''.