Título: Obras em alta voltagem
Autor: Ricardo Rego Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 25/01/2005, Economia e Negócios, p. A17

Disposta a minimizar o desgaste produzido pelos apagões ocorridos na região Sudeste, a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, anunciará hoje, em Vitória (ES), a antecipação, e possivelmente ampliação, do cronograma de investimentos de Furnas Centrais Elétricas. Além de confirmar a antecipação do início de operações em março da esperada linha de transmissão Ouro Preto-Vitória (345 Kv) - o que ocorreria somente em maio -, a ministra deverá antecipar para menos de um ano a construção da subestação de Areinhas, em Viana, na Grande Vitória. Segundo executivos do setor, o pacote previsto para ser anunciado hoje poderá incluir ainda a licitação de uma usina termelétrica para a região da Grande Vitória, o que atenderá a uma antiga reivindicação do governador Paulo Hartung (PT). Oficialmente, no entanto, fontes do governo confirmam apenas a subestação de Areinhas e o início de operações da linha de transmissão, cujas obras - originalmente previstas para conclusão em janeiro - foram interrompidas por liminares judiciais que questionavam os impactos ambientais do empreendimento de R$ 380 milhões.

Licitada pela Agência Nacional de Energia Elétrica em 2001, a linha só começou a ser construída no ano passado. O projeto só foi incorporado ao portfólio de Furnas depois que nenhuma empresa privada demonstrou interesse pela linha. Já a subestação de Areinhas, segundo essas mesmas fontes, será instalada em um prazo de nove meses a partir deste primeiro semestre. Com implantação originalmente prevista para 24 meses, o projeto também contribuirá para aumentar a confiabilidade do subsistema do Espírito Santo-Rio de Janeiro.

Localizados na chamada ponta do sistema interligado, os dois estados, segundo especialistas do setor, apresentam uma fragilidade estrutural na transmissão de energia. Fontes do governo afirmam, no entanto, que as novas providências deverão não só eliminar o problema, como conferir à região um dos mais confiáveis e modernos sistemas de transmissão.

Embora tenha elogiado a decisão do governo de investir na melhoria e ampliação do sistema interligado de energia, o ex-presidente da Eletrobrás Luiz Pinguelli Rosa - coordenador de planejamento energético da Coppe-UFRJ - não deixa de criticar a decisão do governo. Segundo ele, ao autorizar a antecipação dos investimentos, o Ministério de Minas e Energia reconhece, de forma tácita, o erro de diagnóstico do apagão do primeiro dia deste ano. Na ocasião, tanto a diretoria de Furnas Centrais Elétricas quanto a ministra Dilma Rousseff atribuíram a responsabilidade a ''falha técnica seguida de falha humana''.

Segundo a ministra, as interrupções na transmissão de Furnas são problemas localizados e imprevisíveis.

- Nenhum sistema, por mais robusto e bem estruturado, consegue ser totalmente imune a estas situações - afirmou a ministra, ao contrariar números do Operador Nacional do Sistema Elétrico.