Título: Lula inflama discussão sobre etanol
Autor: Totinick, Ludmilla
Fonte: Jornal do Brasil, 12/04/2008, Economia, p. A17

Após campanha contra combustível, presidente culpa barreiras comerciais pela inflação de alimentos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu ontem às críticas de que a produção dos biocombustíveis é a grande responsável pelo aumento do preço dos alimentos no mundo. A avalanche de críticas ao programa pode prejudicar o Brasil, um dos maiores produtores de etanol do mundo, segundo especialistas.

¿É necessário discutir as barreiras comerciais aos biocombustíveis que surgem a pretexto de supostos riscos ambientais, sociais e alimentares ¿ ressaltou Lula, em Haia, na Holanda. ¿ Considero esse debate necessário e urgente, mas ele precisa ser feito com base em fatos e não em preconceitos.

Para o presidente, é uma "mentira deslavada" de quem não entende ou não quer entender.

¿ Existe mais de um bilhão de seres humanos do mundo vivendo abaixo da linha da pobreza e que não conseguem comer as calorias e proteínas necessárias.

Segundo o presidente, é amplamente possível compatibilizar a produção de etanol e biodiesel com a produção de alimentos.

A substituição da gasolina pelo etanol, no Brasil, evitou a emissão de 644 milhões de toneladas de CO2 nos últimos 30 anos e gerou cerca de 6 milhões de postos de trabalho. Só 1% das áreas agricultáveis no Brasil são destinadas à cana-de-açúcar para etanol.

Segundo o professor de mestrado de Agroenergia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Roberto Perosa, a campanha contra o uso de biocombustível é liderada pela Europa e Estados Unidos para atrapalhar o Brasil, pois o etanol nacional é mais barato. Além disso, atrasa o reconhecimento do combustível do Brasil como commodity internacional e ganha tempo para a concorrência futura.

¿ O Brasil se tornou a maior potência agrícola do mundo. De um lado, a Europa não tem como produzir álcool e os Estados Unidos produzem por meio do milho, que encarece a produção - explica Perosa. ¿ Quando os europeus criticam os americanos e afirmam que o desvio de grande parte de milho para a produção de etanol pelos EUA deixa de servir para alimentação e torna os alimentos mais caros no resto do mundo, eles prejudicam o Brasil.

Segundo o professor, outra "falácia" alimentada por concorrentes no mundo dos agronegócios é dizer que a plantação de cana-de-açúcar vai depredar Amazônica.

¿ Não faz sentido, pois a plantação de cana necessita de clima seco e a Floresta é extremamente úmida ¿ ressaltou o especialista.

Outra crítica do mercado internacional é tentar desmoralizar o uso de carro flex, ao alegar que o governo brasileiro subsidia o álcool, lembra Perosa.

¿ Os países criticam pois não têm tecnologia flex e combustível, por isso ficariam dependentes do mercado brasileiro. A produção americana está fadada ao fracasso ¿ prevê Perosa. ¿ Em resumo são críticas para adiar uma questão que é inevitável.

Ele adianta ainda que haverá tecnologia que transforma celulose em etanol: "No futuro você poderá pegar um pedaço de grama e produzir o álcool".

O Brasil produz hoje cerca de 18 bilhões de litros de álcool e os EUA, 21 bilhões. Há três anos, o Brasil era líder mundial de produção. Os dois países são responsáveis por 60% da produção mundial.

Os Estados de São Paulo, Alagoas, Pernambuco, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais e Paraná produzem etanol.

O Brasil pode expandir a produção atual e para isso só precisaria de seis milhões de hectares. O país tem aproximadamente 106 milhões de hectares ainda livres. No Estado do Rio, por exemplo, a cultura de biodiesel pode ocupar o espaço que o café ocupava no passado.

O uso dos biocombustíveis tem vários benefícios como a diminuição da emissão de gases poluentes, redução do aquecimento global e possibilidade de renovação. É altamente viável, não são necessárias grandes áreas de extensões para o plantio e há selo de certificação para garantir a qualidade do produto, destacam os defensores do produto.

Além disso, acrescentam, existe a possibilidade de recuperação das áreas degradadas, alternativa para a agricultura familiar, geração de postos de trabalho e utilização de subprodutos do óleo como suplemento alimentar. Os especialistas também rechaçam a alegação de que o uso de biocombustíveis provoca a corrosão dos motores dos carros.