Título: Esgotando os recursos do planeta
Autor: Krugman, Paul
Fonte: Jornal do Brasil, 22/04/2008, Economia, p. A18
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Há nove anos, a The Economist publicou uma grande reportagem sobre petróleo, que na época era vendido a US$ 10 (cerca de R$ 16,70) o barril. Segundo a revista, a situação não duraria e o preço cairia para US$ 5 o barril. De qualquer forma, afirmou a The Economist, o mundo teve a chance de contar com petróleo abundante e barato para o futuro. Na semana passada, o petróleo chegou a US$ 117.
Não foi só o petróleo que desafiou a tranqüilidade de alguns anos atrás. Os preços dos alimentos também subiram, assim como os preços dos metais básicos. E o aumento dos preços de commodities desenterra uma pergunta que não ouvimos muito desde os anos 70: Recursos naturais limitados representam um obstáculo para o crescimento econômico mundial futuro?
Como você vai responder essa pergunta depende do que você acredita que está aumentando os preços dos recursos. De um modo geral, há três visões concorrentes.
A primeira diz que é especulação ¿ que os investidores, buscando altos retornos em uma época de juros baixos, acumularam futuros de commodities, aumentando os preços. De acordo com esse ponto de vista, em breve a bolha vai estourar e os altos preços dos recursos vão trilhar o mesmo caminho do Pets.com.
A segunda visão defende a idéia de que os altos preços dos recursos têm, de fato, fundamento ¿ especialmente devido à demanda crescente dos chineses que passaram a comer carne e a dirigir carros ¿ mas, com o tempo, vamos perfurar mais poços e plantar em mais hectares. Além disso, o maior suprimento vai baixar os preços novamente.
A terceira diz que a era dos recursos baratos terminou para sempre ¿ que estamos acabando com o petróleo, com a terra para produção de alimentos e com o planeta. Fico entre a segunda e a terceira visões.
Há algumas pessoas muito espertas ¿ não menos que George Soros. Elas acreditam que nos encontramos em uma bolha de commodities (apesar de a bolha ainda estar, de acordo com Soros, em sua fase crescente). Meu problema com essa visão, no entanto, é o seguinte: Onde estão os estoques?
Normalmente, a especulação aumenta os preços de commodities promovendo armazenagens. Até agora, não há sinal de reservas de recursos: os estoques de alimentos e metais estão nos níveis mais baixos da história, ao passo que os de petróleo estão normais.
O melhor argumento da segunda visão, de que a falta de recursos é real mas temporária, é a forte semelhança entre o que vemos agora e a crise de recursos dos anos 70.
Os americanos se lembram mais de altos preços de petróleo e filas crescentes em postos de gasolina na década de 70. Também houve, contudo, uma crise de alimentos global severa, que causou enorme sofrimento e séria escassez em países mais pobres.
Em retrospecto, o boom das commodities de 1972-75 foi provavelmente o resultado de rápido crescimento econômico mundial que alcançou os suprimentos, combinado com os efeitos do mau tempo e do conflito no Oriente Médio. No final das contas, a má sorte chegou ao fim, novas terras foram cultivadas, novas fontes de petróleo foram encontradas no Golfo do México e Mar Norte, e os recursos ficaram baratos de novo.
Mas desta vez deve ser diferente: as preocupações com o que acontece quando a economia mundial crescente esbarra nos limites de um planeta finito parecem mais verdadeiras agora do que na década de 70. Em primeiro lugar, não espero que o crescimento na China diminua de forma significativa em breve. É um grande contraste com o que aconteceu nos anos 70, quando o crescimento no Japão e na Europa ¿ economias emergentes da época ¿ desacelerou e, conseqüentemente, retirou muita pressão dos recursos mundiais.
Enquanto isso, está mais difícil de achar os recursos. Grandes descobertas de petróleo se tornaram raras. E, nos últimos anos, a produção de petróleo a partir de novas fontes tem sido apenas suficiente para contrabalançar a produção decrescente a partir de fontes já conhecidas.
E o mau tempo que afeta a produção agrícola desta vez está começando a aparecer mais essencial e permanente do que El Nino e La Nina, que destruíram produtos agrícolas há 35 anos. A Austrália, em particular, enfrenta agora o décimo ano de uma seca que parece mais com uma manifestação a longo prazo da mudança climática.
Suponhamos que o planeta esteja realmente chegando ao seu limite. O que isso significa?
Mesmo que estejamos, de fato, próximos do pico da produção de petróleo, isso não significa que um dia diremos: "Oh meu Deus! Acabamos com o petróleo!" e veremos o colapso da civilização como na anarquia de Mad Max.
No entanto, os países ricos vão enfrentar forte pressão em suas economias com o aumento dos preços dos recursos, dificultando a melhora do padrão de vida. E alguns países pobres vão viver perigosamente um momento crítico.
Não olhe agora, mas os bons tempos acabaram.