Título: Medo de inflação anula efeito do título sobre a taxa de juros
Autor: Almeida, Rodrigode; Camarão, Rodrigo
Fonte: Jornal do Brasil, 04/05/2008, País, p. A2

O medo da inflação vai arrefecer o impacto que a obtenção do grau de investimento teria sobre a taxa de juros do Brasil. O título concedido pela Standard & Poor¿s deveria empurrar a taxa para baixo, como fez em outros países com a mesma classificação de risco. Porém, isso só deve acontecer no médio ou longo prazo, porque o controle da inflação ainda vai ditar os rumos do BC este ano.

¿ Com o grau de investimento, Meirelles ganhou fôlego para mais algumas subidas de juros este ano ¿ ressalta Raul Velloso, consultor econômico e especialista em análise macroeconômica e finanças. ¿ E ele vai fazer isso.

A Selic está ligada ao chamado prêmio de risco. Quando o país tem grande chance de dar calote na dívida, aumenta os juros para compensar e atrair investidores afeitos ao perigo. O título de grau de investimento reduz o Risco Brasil ¿ na sexta-feira, o índice ficou abaixo dos 200 pontos. Com ele, o juro deveria cair também. Na teoria.

¿ O investment grade vai empurrar o juro para baixo. A questão é saber com que velocidade ¿ avalia Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do Banco Central, que atribui o selo concedido pela S&P à redução do peso da dívida pública no Produto Interno Bruto (PIB).

Antes da posse de Lula, em 2002, estava em 60%. Hoje, é 41,9%.

¿ Todos os países que são grau de investimento reduziram juros. Nossa taxa real é de 7%, a maior do mundo, quando poderia estar em cerca de 3% ¿ acrescenta o hoje professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec).

Salomão Quadros, chefe do Centro de Estudos Estatísticos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), é taxativo: os juros vão subir.

¿ A Selic será um pouco menor no médio ou longo prazos, mas só a partir do ano que vem ¿ prevê.

Câmbio

Empresários viram no grau de investimento um alento na luta pela redução das taxas de juros. Em nota, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) diz que "o grau de investimento deveria levar a uma revisão do recém-iniciado processo de elevação da taxa de juros e suscitar no governo o exame de medidas efetivas de compensação do elevado e repentino atrativo que o influxo de recursos para o país".

O setor exportador tem contado prejuízos com o dólar desvalorizado. As contas correntes do país, também. Este ano, o Brasil apresentou déficit de US$ 10,7 bilhões, influenciado pela redução do saldo da balança comercial e a remessa recorde de lucros de multinacionais para as matrizes no exterior. A tendência de ingresso de mais capitais no país tende a fazer o real valorizar ainda mais. Um piso consensual beira os R$ 1,60.

¿ O ingresso desses investimentos ajuda a financiar o déficit em conta corrente, mas não por muito tempo ¿ alerta o ex-diretor do BC Carlos Thadeu.

A saída, repetem os economistas, caso prevaleça a trajetória adotada até aqui, é muito parecida com a indicada pela Standard & Poor¿s: corte de gastos e aperto fiscal.