Título: No círculo íntimo de conselheiros do Planalto
Autor: Almeida, Rodrigode; Camarão, Rodrigo
Fonte: Jornal do Brasil, 04/05/2008, País, p. A2

Em matéria econômica, o círculo de influência mais próxima do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é marcado pela diversidade ¿ para dizer o mínimo. Estão no grupo dois integrantes do governo ¿ o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles ¿ e dois conselheiros informais, os professores Luiz Gonzaga Belluzzo e Delfim Netto.

Do grupo, só Mantega é historicamente ligado ao PT. É tido, acima de tudo, como um lulista. Belluzzo e Delfim são mais eruditos e sofisticados. E Meirelles, o representante do neoliberalismo mais puro e dogmático. Por isso mesmo, como Delfim, um nome que seria impensável anos atrás para estar neste círculo ligado a Lula.

¿ Meirelles é uma pessoa importante pela posição que ocupa ¿ diz o economista Salomão Quadros, da Fundação Getúlio Vargas. ¿ Conseguiu manter a política restritiva e se acomodar mesmo não sendo do círculo mais próximo do presidente.

Para Quadros, o czar do Banco Central precisou de uma "capacidade especial" para viver esse papel no Planalto.

O embate das contas

Há cerca de dois meses, um encontro no Palácio do Planalto reuniu os quatro principais conselheiros e mais o senador Aloizio Mercadante (PT-SP). Delfim e Belluzzo expuseram ao presidente a ameaça de o Brasil voltar a sofrer uma crise no balanço de pagamentos, devido à deterioração das contas externas ¿ o que reproduziria o cenário que Lula recebeu de Fernando Henrique. A dupla advertiu que, com o dólar se desvalorizando e o risco de queda nos preços das commodities, o Brasil chegará vulnerável em 2010, ano de campanha presidencial.

Meirelles, segundo um participante do encontro, entrou mudo e saiu calado. Preferiu agir mais tarde. Semanas depois, reuniu-se sozinho com Lula, apontou riscos inflacionários e o preparou para um possível aumento de juros, o que acabou ocorrendo na última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), mês passado. E nada impede que possa voltar a acontecer este ano.