Título: A maconha no centro da polêmica
Autor: Victal, Renata
Fonte: Jornal do Brasil, 04/05/2008, Cidade, p. A18

Marchas contra e a favor da legalização da droga prometem reunir milhares de pessoas na orla.

A orla da Zona Sul será hoje palco de um embate que tem no centro a legalização da maconha. Pela manhã, a vereadora Sílvia Pontes (DEM), espera reunir, às 9h, na Rua Santa Clara, em Copacabana, adeptos para a Caminhada Rio em Defesa da Família e Contra a Legalização das Drogas. Mais tarde, às 14h, em Ipanema, são esperadas de 700 a mil pessoas na Marcha da Maconha.

No primeiro protesto, a idéia é alertar a população sobre os danos causados pelas drogas. Já no segundo, se pretende chamar atenção para a discussão pela descriminalização e regulamentação da produção e do uso da maconha. Para manter a ordem, a polícia decidiu reforçar o policiamento na orla. Policiais do serviço reservado acompanharão as manifestações.

¿ Queremos discutir a legalização da droga como já acontece em vários lugares da Europa. Nossa manifestação é pacífica ¿ diz o sociólogo Renato Cinco, um dos organizadores da marcha.

Opiniões divididas

Contrário às duas manifestações, o subsecretário de Governo, Rodrigo Bethlem, acha que a população deveria concentrar esforços em outras reivindicações.

¿ Não vou participar de nenhuma das passeatas. Acho que existem coisas mais importantes no Rio, muitos problemas. Colocar ordem na cidade é bem mais importante do que ficar discutindo maconha.

O deputado federal Marcelo Itagiba (PMDB) vai mais longe. Para ele, como a apologia às drogas é ilegal, a marcha também é.

¿ O que é crime deve ser tratado de forma justa pelas autoridades judiciárias ¿ ressalta Itagiba. ¿ Na verdade, quando é com pobres e favelados, todo mundo quer as pessoas na cadeia. Quando a droga atinge as classes média e alta, começam a fazer o discurso da descriminalização, porque filho de bacana não pode ir para a cadeia.

O deputado acredita que o debate não resolve o problema:

¿ Discutir a descriminalização de algo que envenena a nossa juventude não resolve o problema da sociedade. A verdade é que a droga faz mal, mas nós não vemos no mundo campanhas esclarecedoras sobre o que ela provoca.

A marcha, que acontece em outros sete Estados, foi proibida pela justiça em João Pessoa, na Paraíba, em Cuiabá, no Mato Grosso, e em Salvador, na Bahia. A censura foi criticada pelo músico Lobão.

¿ A sociedade tem que exercer o seu direito constitucional. Proibir é uma hipocrisia, um retrocesso. Todo mundo tem o direito de expressar o que pensa. Bebe-se álcool e ninguém discrimina o encachaçado. Dou força à marcha e acho que a maconha deve ser liberada. Enquanto não liberarem, a violência vai continuar. Esse tipo de proibição gera violência.

O secretário estadual de Ambiente, Carlos Minc, também acredita que debater o tema é fundamental e garante sua participação na concentração da marcha:

¿ Os bandidos ficam mais poderosos com o monopólio. Eles acumulam mais poder econômico. A guerra entre bandidos mata 50 vezes mais que as drogas, que a overdose. O que asfixia o Rio é o tráfico. Sou favorável à legalização da maconha a médio prazo. Quem se posiciona contra é moralista e obscurantista.