Título: Brasileiros fazem falta à economia
Autor: Freitas Jr., Osmar
Fonte: Jornal do Brasil, 04/05/2008, Internacional, p. A27
Lei contra imigração ilegal em Riverside deu certo demais, reclamam empresários locais.
Na estação de trem de Riverside, em Nova Jersey (EUA), não há faixa de boas-vindas. A estrutura de tijolinhos, que abriga as plataformas de embarque, está vazia. Fora de lá, na Franklin Street, o panorama se assemelha ao dos cenários falsos de estúdios de filmes de mistério.
¿ Eu vendia cinco litros de café por dia. Hoje, o único copo que saiu foi aquele que eu mesmo tomei ¿ ilustra Arnold Allisto, dono do barzinho na sala de desembarque.
Sua freguesia partiu ¿ de trem, carro ou avião ¿ expulsa pela mentalidade de xerife xenófobo ¿ do ex-prefeito Charles Hilton. Eram imigrantes não documentados, principalmente brasileiros, que ficavam à espera de convites para trabalho no regime diarista. Esperavam ser arregimentados ali perto da ferrovia. Riverside ¿ que teve o nome "Progress", na fundação ¿ é hoje prova concreta do retrocesso econômico e cultural forjado por sentimentos antiimigrantista.
Chame-se como testemunhas deste desastre os moradores nativos.
¿ Os negócios estão parados. Tem muita gente que vai falir nesta cidade ¿ diz Claire Spinoza, 63, dona de um mercadinho. Seus clientes, assim como 2 mil brasileiros que viviam em Riverside, fugiram. Onde havia 8 mil habitantes, agora existem 6 mil. É que, há cerca de um ano, o comitê municipal, capitaneado pelo prefeito Hilton ¿ inospitaleiro, apesar do sobrenome de hotel ¿ passou conjunto de leis estipulando multas para senhorios que alugassem propriedade para imigrantes ilegais: US$ 1 mil para o primeiro incidente e o dobro a partir daí. Punia-se também os donos de empresas que empregassem o mesmo grupo. O pioneirismo gerou cópias em outras 30 cidades americanas. Estas medidas, porém, foram contestadas em Corte superior, que seguindo a Constituição, lembrou ser competência exclusiva do governo federal o trato de questões de imigração.
O dano, no entanto, já havia sido feito.
¿ Ninguém imaginou as consequências econômicas negativas que esta medida traria. Debilitamos seriamente a economia da cidade ¿ lamenta o atual prefeito, George Conrad, que votou a favor da lei e agora está arrependidíssimo.
Ele tem esperanças de que os brasileiros ¿ a comunidade mais atingida pela lei do porrete ¿ retornem. É bom que espere sentado, pois quem partiu não voltará.
Apesar de representar 25% da população, os brasileiros de Riverside eram responsáveis pela metade da economia do lugar.
¿ Não apenas compravam nas lojas locais, mas também geravam riqueza com sua mão de obra barata ¿ explica Ralph Coolidge, empreiteiro da região. ¿ Os negócios de construção estão parados por causa da crise hipotecária. Mas eu poderia me manter flutuando apenas com os contratos de reformas e consertos. Agora, na primavera, é época de remendar os danos feitos pelo gelo do inverno. Como não tenho mais a mão de obra brasileira, quem vou empregar neste trabalho? O resultado é que a encomenda sai bem mais cara e poucos tem condições de pagar. Os trabalhadores americanos exigem salários bem mais altos e não querem fazer certos serviços.
O setor econômico não foi o único a ser afetado. Culturalmente a devassa também foi sentida.
¿ Não perdi apenas funcionários: perdi amigos ¿ diz Coolidge, capaz de derramar lágrimas ao lembrar dos churrascos preparados pelo mineiro Carlos Eduardo Agripino, tido como o melhor assador de carnes ao Norte do Rio Delaware.
Líder do movimento
O líder do movimento contra imigrantes é Joey Vento, dono do restaurante Geno"s Steaks. Seu esforço para banir os imigrantes foi além dos US$ 10 mil que doou para o fundo legal que defendia as leis xenófobas diante da Corte de Apelos.
¿ Tenho direito de protestar nas ruas. Meus pais vieram para este país legalmente. Por que outros estrangeiros não fazem o mesmo? ¿ indaga. ¿ No Brasil existem leis de imigração. Aposto que os brasileiros não gostariam de ser invadidos por estrangeiros sem documentação apropriada.
E, pelo menos neste ponto, ele está certo. Pesquisa recente da ONU mostra que o Brasil está em sétima colocação no ranking de xenofobia na América Latina. Apenas 18% dos pesquisados apoiam estrangeiros "da mesma raça" vivendo no país. Outros 8% concordam com a chegada de imigrantes de países mais pobres. E apenas 7% dariam boas vindas à indivíduos de outras raças. Assim, Joey Vento se encaixa perfeitamente nos padrões xenófobos brasileiros.