Título: Além do Fato: Em xeque, o ânimo nacional
Autor: Paulo Skaf
Fonte: Jornal do Brasil, 25/01/2005, Economia e Negócios, p. A18

Os sucessivos aumentos da taxa Selic em 2004 começarão a produzir efeitos negativos mais fortes no setor produtivo a partir deste ano. As conseqüências práticas das decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) vão, paulatinamente, sendo percebidas pelos empresários, na busca de financiamentos, e pelos consumidores, no ato de obtenção de crédito. Sem falar de que a alta de juros atrai apenas capitais especulativos para o país, causando a queda do dólar e prejudicando as exportações, que têm sido um dos fatores de sustentação do crescimento econômico. As taxas de juros vêm subindo desde setembro. Assim, o novo aumento da Selic, anunciado na última quarta-feira, dia 19 de janeiro, agrava o problema e, com certeza, terá impacto bastante negativo nos setores produtivos. O Copom perdeu excelente oportunidade de estimular a economia e renovar o ânimo de quem produz e trabalha no sentido de fazer de 2005 um ano bom para a economia nacional. Mais uma vez, o governo abriu mão de adotar a decisão mais correta, para insistir na mesmice dos juros altos. Temos defendido o aumento da produção e a redução dos gastos públicos como estratégias de combate à inflação. Apenas para lembrar, de janeiro a novembro de 2004, em relação a igual período de 2003, a receita da União cresceu 9,9%, mas seus gastos aumentaram 11,7%.

E é preciso considerar que esses números não incluem dezembro, um mês de maiores despesas, como o pagamento do 13º salário do funcionalismo federal. Para obter caixa que possa financiar os excessivos gastos, como tem ocorrido há tempos, foi preciso manter papéis públicos altamente rentáveis na captação de recursos. Todo este dinheiro, contudo, saiu da sociedade e da produção entrou no redemoinho de uma equivocada política financeira.

O governo, por meio de distintas fontes, continua reduzindo o dinheiro dos agentes produtivos, trabalhadores e consumidores. Ao ¿imposto¿ dos juros, soma-se uma das maiores cargas tributárias do Planeta. E, como demonstrou a Medida Provisória 232, o apetite fiscal do setor público é insaciável. Não bastasse aumentar os impostos dos prestadores de serviços, esta inoportuna Medida Provisória taxou ainda mais as pessoas físicas, com a correção da tabela do Imposto de Renda muito aquém do razoável.

O Copom poderia ter considerado tudo isto que já ocorreu nos primeiros 19 dias de 2005, reduzindo ou pelo menos não aumentando mais a Selic. Perdeu-se excelente oportunidade de resgatar o ânimo da sociedade e de quem produz e trabalha.