Título: Operação da PM mata dois sem-teto em Goiânia
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 17/02/2005, País, p. A2

Quatro policiais e 24 invasores da área reintegrada ficaram feridos Dois sem-teto morreram e outros 24 ficaram feridos na operação de reintegração de posse de uma área invadida no bairro Parque Oeste Industrial, ontem pela manhã, em Goiânia. Segundo informações da Polícia Militar, quatro policiais também ficaram feridos. Pelo menos um deles foi atingido por um tiro. Cerca de 4 mil famílias moravam no local. Durante a madrugada, a PM lançou bombas de gás na área, e os moradores montaram barricadas com fogo para evitar a entrada dos policiais. Às 8h30, com clima tenso, a operação foi iniciada. Aproximadamente 2 mil policiais militares participaram da reintegração.

Os moradores resistiram. Segundo a PM, eles atiraram contra os policiais. Os sem-teto usaram também bombas caseiras e pedras. O secretário da Segurança Pública e Justiça de Goiás, Jônathas Silva disse que 20 comandantes da operação portavam armas de fogo. Os soldados estariam com munição não-letal. Ele disse que vai apurar de onde partiram as balas que feriram os sem-tetos e os policiais.

Às 11h a área já estava sob controle da polícia. As famílias começaram a ser removidas para ginásios de esporte do estado apenas com a roupa do corpo. Cerca de 800 invasores foram detidos na delegacia montada especialmente no 7º Batalhão da PM. A polícia autuou 132 pessoas por resistência à prisão ou desobediência à ordem policial. Os presos foram depois liberados.

No fim da manhã, o Hospital de Urgência de Goiânia informou que estavam internados 29 sem-teto feridos ¿ alguns por armas de fogo. À tarde, a direção do hospital disse ter ocorrido um erro no cadastramento dos pacientes e corrigiu o número de feridos para 13, 11 deles por armas de fogo. Nenhum corria risco de morte. Até o fim da tarde de ontem, os mortos não haviam sido identificados.

O ministro dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda foi ontem para Goiânia, onde visitou o local da invasão e se reuniu com o presidente da Agehab (Agência Goiana de Habitação). Ele teria um encontro também com o governador Marconi Perillo (PSDB). Até as 18h30, Nilmário não havia falado com a imprensa. No fim da tarde, na localidade conhecida como Avenida Magnólia, duas máquinas trabalhavam na derrubada das casas precárias construídas pelos invasores e a empresa distribuidora de energia retirava as ligações clandestinas. Havia marcas de uma barricada montada com pneus queimados.

Cerca de 50 caminhões retiravam os móveis. Eles serão levados para depósitos cedidos pela Prefeitura de Goiânia. De acordo com o presidente da Agehab (Agência Goiana de Habitação), Álvaro César Lourenço, 200 pessoas que foram levadas para um ginásio de esportes terão que deixar o local em três dias. Segundo ele, não é prioridade do Estado atender essas famílias porque elas não aceitaram fazer acordo com o governo. Os demais sem-teto voltaram para casas de parentes ou locais onde moravam antes da invasão. Os que não são de Goiânia receberão o dinheiro da passagem de ônibus para voltar as suas cidades.

Pelo menos 35 bombas caseiras, dezenas de facas e facões e pedaços de pau com pregos na cravados na ponta foram apreendidos. A assessoria de imprensa da PM informou que pelo menos 20 armas de fogo também haviam sido apreendidas.