Título: Decretado o segredo de justiça
Autor: Quadros, Vasconcelo
Fonte: Jornal do Brasil, 10/05/2008, País, p. A3

Por envolver informações sigilosas, juiz federal decide dar tratamento reservado à investigação.

Brasília

Um dia depois de o Palácio do Planalto divulgar o resultado da sindicância interna da Casa Civil e apontar o secretário de Controle Interno, José Aparecido Nunes Pires, como responsável pelo vazamento dos gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso com cartões corporativos, o juiz da 12ª Vara Federal de Brasília, José Airton de Aguiar, decretou segredo de justiça no inquérito do caso.

A decisão impede que a Polícia Federal divulgue informações sobre os passos da investigação que, segundo autorização da própria justiça, deverá ser concluída nos próximos 60 dias. O delegado federal Sérgio Menezes vai pedir à Casa Civil cópia da sindicância que concluiu ser Pires quem vazou as planilhas de gastos do governo FH.

Auditor do Tribunal de Contas da União (TCU), levado para o governo pelo ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, Pires já era apontado pelo delegado Menezes como um dos suspeitos pelo vazamento. Ele será intimado a prestar depoimento nos próximos dias e poderá ser indiciado. Os dados obtidos pelo Instituto da Tecnologia da Informação (ITI), órgão ligado ao Gabinete de Segurança Institucional do Palácio do Planalto, poderão ser anexados ao inquérito. Para a Polícia Federal o que terá valor jurídico, no entanto, serão os laudos que estão sendo preparados pelos peritos do Instituto Nacional de Criminalística (INC) do próprio órgão. Especialistas em informática, eles estão analisando os 13 computadores apreendidos nas salas da Casa Civil, onde foi feito o levantamento sobre os gastos com cartões corporativos, e devem chegar a conclusões mais amplas sobre o vazamento.

Senador depõe

O delegado Sérgio Menezes confirmou ontem já ter ouvido o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). Há 15 dias ele esteve no gabinete do senador e formalizou o termo de declarações. Dias disse que não é o responsável pelo vazamento, mas admitiu ter sido procurado por jornalistas que divulgaram as planilhas. Segundo afirmou, os jornalistas tinham mais informações do que o conteúdo do e-mail repassado a um de seus assessores, o consultor legislativo André Fernandes , por José Aparecido Nunes Pires.

¿ O delegado foi cordial ¿ disse Dias, que não quis revelar o teor de suas declarações.

Menezes saiu do gabinete com a impressão de que o caso não se encerra com a suspeita em torno de Pires. Há ainda a serem investigados o mandante do suposto dossiê e quem se beneficiaria com a divulgação.

Um convite à chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, para prestar declarações, ainda não está afastado. Antes o delegado deverá ouvir todos os funcionários do Palácio do Planalto que trabalharam na coleta de dados para as planilhas com os gastos de FH e a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra.