Título: Severino lutará abertamente por causas polêmicas
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 17/02/2005, País, p. A5

O novo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), confirmou ontem, em sua primeira entrevista coletiva depois de eleito, que um dos seus primeiros atos será a equiparação salarial de deputados ¿ que recebem hoje R$ 12,8 mil ¿ com os ministros do Supremo Tribunal Federal, cujos subsídios chegam a cerca de R$ 22 mil. Para justificar a mais tradicional bandeira de sua vida parlamentar, Severino afirmou que não há como descumprir a Constituição, que prevê a equiparação salarial entre os três poderes. E criticou os que se colocam contra a proposta. ¿ Aqueles que não quiserem receber o aumento, que façam um pedido por ofício. Se forem contra, mas receberem, estão sendo desonestos ¿ desafiou.

Severino também voltou a defender a coincidência das eleições em todos os níveis ¿ presidencial, governadores, parlamentares e prefeitos ¿ alegando que uma disputa eleitoral de dois em dois anos prejudica os cofres públicos. Na prática, isso significaria mais dois anos de mandato para o presidente da República.

¿ Defendo mais dois anos de mandato para o presidente Lula, sem direito à reeleição.

Severino voltou a entoar o discurso que garantiu a sua eleição. Afirmou que não haverá privilégios para grupos de deputados, que se perpetuavam no comando da Casa. Também garantiu que vai abolir as expressões baixo clero, alto clero e novo clero. E foi extremamente crítico contra quem apregoa que ele será uma espécie de ¿rainha da Inglaterra¿, sem voz de comando.

¿ Todos os deputados são iguais. Não pode um parlamentar viajar dez vezes para o exterior, representando a Casa, e outros não viajarem, prejudicando a aquisição de conhecimento. Vamos acabar com esses grupinhos, essas igrejinhas.

O deputado foi cauteloso quanto ao projeto de biossegurança, que opõe evangélicos e ruralistas nos debates sobre alimentos geneticamente modificados e pesquisas com células-tronco de embriões congelados. Disse esperar que os dois grupos se entendam e adiantou que ele próprio não tem opinião formada sobre o assunto. Bem diferente de outros projetos que tramitam na Casa, como a liberação do aborto e da união civil de homossexuais:

¿ Se esses projetos forem votados, deixarei a presidência e irei a plenário defender o que acredito. Não posso defender essa união de homem com homem, mulher com mulher.

Às 22h de ontem, Severino recebeu telefonema do chefe da Casa Civil, José Dirceu. Foi chamado para uma conversa, que poderia incluir também o presidente Lula.