Título: Lula prega coalizão contra derrota
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 17/02/2005, País, p. A5

Para contemplar os partidos governistas, presidente acena com reforma ministerial mais ampla do que havia previsto

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou ontem do Suriname convencido de que a superação da histórica derrota do governo na disputa pela presidência da Câmara passa pela consolidação do chamado governo de coalizão, idealizado por ele no fim do ano passado. Assim, a reforma ministerial a ser deflagrada nos próximos dias, acreditam os ministros que falaram com o presidente, deve ser mais ampla do que se imaginava, contemplando os partidos que apóiam o governo no Congresso, independentemente do peso de suas bancadas.

O assunto deverá ser reforçado em reunião da Coordenação Política do governo, hoje ou amanhã. De sobreaviso, os ministros cancelaram as viagens marcadas para sexta-feira. Ontem à noite, Lula receberia integrantes do primeiro escalão para discutir a situação no Pará, na primeira reunião depois de seu retorno do exterior.

A senha para o ''governo de coalizão'' foi dada pelo ministro da Articulação Política, Aldo Rebelo, após ser recebido ontem em audiência pelos recém-eleitos presidentes da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL):

- Os partidos, inclusive o PMDB, serão muito importantes para a governabilidade e o governo de coalizão que queremos implementar - afirmou.

O PP, grande vitorioso da eleição da Câmara, deverá abocanhar uma fatia maior do bolo do poder. No início, o partido estava cotado para um ministério, o dos Esportes. Depois caiu para o da Pesca, até chegar a uma estatal ou um cargo de segundo escalão. Agora, voltou a ganhar força a tese de que o partido deve mesmo ser agraciado com uma pasta mais forte na Esplanada. Resta saber qual será a indicação da legenda. O deputado Pedro Henry (MT), inicialmente o nome do PP para ocupar uma vaga num ministério, não seria mais unanimidade na agremiação. Há quem diga que Henry fez jogo duplo na eleição.

O PMDB, mesmo dividido, o PTB, o PL e o PSB também entrarão no rateio da reforma, que incluirá, além dos ministérios, estatais e agências reguladoras. A expectativa no Planalto é de ampliação do espaço dos partidos governistas. A despeito de o PT ainda não ter desistido de lutar pela manutenção de pastas como as das Cidades e da Saúde, Olívio Dutra e Humberto Costa estariam com os dias contados no governo.

- O governo de coalizão será para valer - avisou um ministro com assento no Planalto.

Em conversa por telefone com ministros da articulação política, Lula teria explicado também que, pessoalmente, manteve distância estratégica da disputa pela presidência da Câmara para não passar a impressão do velho e surrado ''toma-lá-da-cá'' da política, às vésperas de novas alterações na Esplanada. A ordem é evitar a autoflagelação do PT, embalado pelo clima de caça às bruxas desencadeado pela derrota na Câmara, e colocar em prática um governo em que prevaleça a parceria com os aliados. O presidente não teria gostado, por exemplo, da entrevista concedida ontem pelo presidente do PT, José Genoino, ao programa Bom Dia Brasil, da TV Globo, em que chegou a falar em ''divergências no governo''.

- O governo tem que andar para frente. Não adianta apontar culpados - teria dito Lula a um ministro ontem.

Além de evitar a autoflagelação do PT, na avaliação do presidente, o governo deve se empenhar para reunificar os aliados. Para Lula, a bancada governista não saiu da eleição à presidência da Câmara fracionada, ao contrário do PT. Mas alertou a ministros que precisa recuperar a integração de outrora, uma vez que os líderes de partidos governistas não estariam falando a mesma língua.

Outro objetivo seria restabelecer o equilíbrio de forças entre Câmara e Senado. Hoje, o poder estaria concentrado nas mãos do presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Apesar de manter uma boa relação com o senador alagoano, Lula teme que o governo fique refém de Calheiros. Como suprir a ausência do PT na Mesa Diretora da Câmara também foi preocupação manifestada pelo presidente em conversa com ministros ontem.