O Globo, n. 32.301, 13/01/2022. Brasil, p. 10

Seis anos depois, polícia apresenta assassino de Beatriz
Ana Beatriz Moda*


Mãe de criança morta aos sete anos em Petrolina (PE) questiona demora no recolhimento de material genético.

Seis anos, um mês e um dia depois do crime, a Polícia Civil de Pernambuco apresentou ontem o assassino de Beatriz Angélica Mota, morta aos sete anos com dez facadas em Petrolina, no Sertão do estado. O criminoso, segundo a Polícia Científica do estado, foi Marcelo da Silva, que está preso em Salgueiro, também no interior, desde 2017, por estupro. Mas a solução não deixou satisfeita a família da vítima.

A faca encontrada no corpo da criança, com material genético do assassino, levou a polícia a Marcelo. O DNA coletado pelos peritos foi comparado com o de 125 suspeitos, a partir do banco de perfis genéticos da Polícia Civil.

Somente em 2019 Marcelo teve o material genético colhido, em um mapeamento de todos os condenados do sistema prisional de Pernambuco. Ele começou a ser investigado pelo crime em 2021.

Na primeira semana deste mês, o assassino foi levado ao Fórum de Trindade, também no Sertão pernambucano, para um procedimento relacionado a outro crime de que é acusado. A Polícia Científica de Pernambuco aproveitou para coletar e comparar novamente o material genético e confirmou a autoria. Interrogado, o preso confessou.

— Ele estava transitoriamente no local e entrou na escola para conseguir dinheiro e sair da cidade. Beatriz foi a pessoa que encontrou e que, diante do susto, ele a silenciou a facadas — disse o secretário de Defesa Social, Humberto Freire, na coletiva em que a solução do crime foi detalhada ontem, em Recife.

Morador de rua, Marcelo já foi preso três vezes, por roubo e estupro de vulnerável. Estava em liberdade condicional quando cometeu o assassinato. Beatriz não foi vítima de violência sexual.

Para a mãe da vítima, Lúcia Mota, há esclarecimentos a serem feitos. Lucinha criticou a demora na coleta de material genético e não se mostrou convencida sobre a causa do homicídio.

— Todo crime tem uma motivação, e a forma como foi praticada é muito violenta, praticada com muito ódio —declarou.

Em 10 de dezembro de 2015, Beatriz participava da formatura da irmã no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora. Ao sair de perto dos pais para beber água, a menina desapareceu. Seu corpo foi achado num depósito de materiais esportivos da escola, com a faca cravada no abdômen, além de ferimentos no tórax, braços e pernas. O pai de Beatriz, Sandro Romilton, era professor de inglês no colégio.

CAMINHADA E PROTESTO

Em 2021, os pais de Beatriz Angélica caminharam por cerca de 700 km de Petrolina até Recife pedindo justiça e solicitaram ao governador, Paulo Câmara (PSB), que o caso passasse para a esfera federal.

A mãe de Beatriz afirmou durante a caminhada que “a polícia tinha sabotado o inquérito” e que “os assassinos estavam sendo protegidos”. Depois de passar por oito delegados, a investigação ficou com uma força-tarefa.