Correio Braziliense, n. 22584, 17/01/2025. Economia, p. 7

Dólar volta a subir e Bolsa cai 1,15%
Júlia Portela


Apesar de abrir o pregão em queda e romper o piso de R$ 6 pela primeira vez em mais de um mês, o dólar fechou o pregão de ontem em alta após três dias de queda. A divisa norte-americana chegou a atingir R$ 5,996, às 9h34, no entanto, encerrou o dia cotado a R$ 6,053 para a venda, registrando alta de 0,47%.

A virada do câmbio acompanhou o avanço da divisa norte-americana frente às moedas emergentes, especialmente após a sabatina no Senado de Scott Bessent indicado pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, para comandar o Tesouro norte-americano. Na sabatina, Bessent deu pistas sobre como será o plano de tarifas do novo governo.

"O mercado cambial apresentou uma certa volatilidade, o que já era meio esperado, porque o fechamento da véspera foi muito bom", destacou o economista César Bergo, professor da Universidade de Brasília (UnB). Somente nesta semana, a moeda norte-americana acumula queda de 2,3%.

"É natural, porque ainda persistem as incertezas relativas à política fiscal. Também houve uns vetos do presidente na reforma tributária, e isso acabou gerando algumas incertezas e, na medida em que se aproxima a posse do presidente Trump, é natural que haja esse aumento de volatilidade", disse Bergo.

Segundo o professor da UnB, a tendência é de que o dólar permaneça na faixa de R$ 6 durante alguns dias, "talvez caindo um pouco para próximo de R$ 5,90 só a partir de março".

Na contramão do dólar, o Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), voltou a cair após três pregões seguidos de alta, acompanhado a queda das bolsas internacionais. O IBovespa recuou 1,51%, ontem, a 121.234 pontos. Na véspera, disparou 2,81%, a maior alta diária desde 5 de maio de 2013, quando o IBovespa registrou valorização de 2,91%, segundo dados da consultoria Elos Ayta.

Em Nova York, o Índice Dow Jones recuou 0,16%, enquanto a Nasdaq, bolsa das empresas de tecnologia, teve queda de 0,89%.

Inflação

André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferência internacional, cartão e conta global Remessa Online, afirmou que os juros futuros seguem uma direção semelhante à do pregão de terça-feira, e esse movimento foi influenciado pelos resultados do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) dos Estados Unidos. O CPI registrou um aumento de 2,9% em dezembro, conforme as projeções do mercado. "Mas o núcleo da inflação, que exclui os preços mais voláteis de alimentos e energia, apresentou resultados inferiores ao esperado por muitos analistas, o que é um dado bastante positivo. Isso indica que os preços, especialmente os mais voláteis, estão sendo impactados pela política monetária implementada pelo Federal Reserve", detalhou.

Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, destacou que o movimento do dólar também teve influência da divulgação do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), prévia do Produto Interno Bruto (PIB). O indicador teve alta de 0,10%, em novembro, na comparação com o mês anterior. "O dado ficou acima das expectativas, mas mostrando uma desaceleração no crescimento, mas nem isso foi suficiente para trazer ao mercado um movimento de realização", disse Moliterno. O analista lembrou ainda que a espera do mercado para divulgação do PIB da China também teve influência sobre o movimento do dólar ontem.