Correio Braziliense, n. 22584, 17/01/2025. Brasil, p. 6

Alfabetização incompleta vai a 30%


O estudo Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência no Brasil analisou as privações de acesso à escola na idade certa. Os dados relacionados à alfabetização mostram que, em 2023, cerca de 30% das crianças de oito anos não tinham completado essa fase da escolaridade.

De acordo com o estudo da Unicef, esse é um dos reflexos da pandemia entre 2020 e 2021, marcada pelo ensino a distância e pela falta de acesso a recursos educacionais e de suporte pedagógico adequado. No período da crise sanitária, essas crianças, que tinham tinham entre cinco e seis anos, estavam na alfabetização. Em um recorte racial, as negras tiveram maiores privações de educação, especialmente em relação ao analfabetismo.

Outro recorte diz respeito à insegurança alimentar, que “impacta diretamente a capacidade de aprendizagem das crianças em idade escolar, comprometendo o desenvolvimento cognitivo e o desempenho acadêmico”. “Crianças que enfrentam fome ou má nutrição frequentemente têm dificuldade em se concentrar, memorizar informações e manter a energia necessária para participar das atividades escolares”, destaca o cientista social Luciano Gomes dos Santos, professor do Centro Universitário UniArnaldo.

Norte e Nordeste

Separado por unidades da Federação, o estudo mostra avanços na maioria dos estados. Embora o Norte e o Nordeste continuem apresentando os piores resultados, foram observadas reduções de até 10 pontos percentuais da pobreza multidimensional em estados dessas regiões entre 2017 e 2023.

O estudo destaca, ainda, o impacto geográfico da privação de crianças e adolescentes — os que residem em áreas rurais enfrentam níveis muito altos de privação. Apesar de o campo ter mais crianças e adolescentes com alguma privação de todos os fatores analisados no estudo, a falta de saneamento salta aos olhos. Enquanto em áreas urbanas o percentual com privação de acesso a água e esgoto é de quase 28%, nas áreas rurais é de quase 92%.

“O resultado reflete as dificuldades contínuas enfrentadas por crianças e adolescentes em áreas rurais, onde o acesso a serviços básicos, educação e infraestrutura é frequentemente limitado, destacando a necessidade de políticas específicas que abordem as necessidades particulares de crianças e adolescentes em comunidades rurais para reduzir essa lacuna de privação”, aponta o estudo.