Correio Braziliense, n. 22585, 18/01/2025. Economia, p. 7

BC realiza primeira intervenção de 2025
Luana Patriolino


O Banco Central anunciou, ontem, a sua primeira intervenção no dólar em 2025, após uma sequência histórica de operações em dezembro do ano passado. O órgão informou que realizará dois leilões de linha no mercado de câmbio na segunda-feira — e cada operação terá limite de US$ 1 bilhão, totalizando US$ 2 bilhões. Isso significa que o BC recomprará os contratos de dólares mais à frente.

Será a primeira oferta extra de dólares do Banco Central em 2025, agora sob a presidência de Gabriel Galípolo. O Banco Central intervém no câmbio, quando há alguma disfunção no mercado. A autarquia vinha apenas realizando as operações de rolagem de contratos de swaps cambiais que estavam para vencer. No mês passado, a instituição vendeu um total de US$ 32,6 bilhões ao mercado em leilões extras. O objetivo era dar conta da demanda de fim de ano pela moeda norte-americana.

Gustavo Cruz, estrategistachefe da RB Associados, considera o movimento do BC estranho, apesar de o dólar seguir acima de R$ 6 há quase dois meses.

“O câmbio não está tão estressado assim. Mas, ao mesmo tempo, sabemos que, na semana que vem, poderá haver muita volatilidade com o início do governo de Donald Trump”, disse ele, em referência à cerimônia de posse do republicano, na segunda-feira.

O economista César Bergo, professor da Universidade de Brasília (UnB), partilha do mesmo entendimento diante da expectativa do retorno do republicano à Casa Branca. “Coincidentemente, ou não, o leilão ocorrerá no dia da posse do presidente Donald Trump. Isso deve oferecer muita volatilidade porque vamos ter muitas colocações, muitos discursos, e que podem afetar o dólar no mundo inteiro.

Outro fator é a questão fiscal. O Congresso não está funcionando e voltará em fevereiro e isso gera incerteza no mercado com relação às questões fiscais”, ressaltou.

“No fim do ano passado, o BC atuou decisivamente dentro do mercado de câmbio porque havia fatores, sobretudo, em função da demanda pelo dólar no mercado interno que fez com que houvesse uma disfunção nos preços”, acrescentou.

Ontem, o dólar comercial encerrou o dia vendido a R$ 6,065, com alta de 0,2%, em relação ao dia anterior. A cotação da divisa norte-americana oscilou durante o dia, chegando à máxima de R$ 6,08, por volta das 11h, e caindo para mínima de R$ 6,03, às 13h. Pela tarde, subiu e fechou em leve alta. Enquanto isso, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) voltou a subir após forte queda na véspera, encerrando o pregão com valorização de 0,92%, a 122.350 pontos, embalada pelo crescimento de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) da China em 2024, que ajudou a valorizar ações de mineradoras, como a Vale.

Devido ao aumento da desconfiança do mercado na capacidade do governo em equilibrar as contas públicas, o dólar vem registrando forte valorização desde o fim de novembro passado. Em dezembro, o Banco Central interveio no de câmbio em 14 ocasiões, distribuídas entre leilões de linha e no mercado à vista, quando não há compromisso de recompra da moeda pelo BC. O último movimento ocorreu em 30 de dezembro, antes do fechamento dos mercados para 2025. “Naturalmente, a depreciação do câmbio tem raízes mais profundas, como a questão do endividamento público, que geram uma excessiva preocupação do mercado, sinalizada pela saída líquida de poupança estrangeira de dentro da nossa economia”, destacou o economista Vinícius do Carmo, ao avaliar o anúncio do BC.

Conforme os dados da autoridade monetária, a saída líquida de dólares do país somou US$ 26,9 bilhões apenas no mês de dezembro. No acumulado do ano, o saldo do fluxo cambial ficou negativo em US$ 18,5 bilhões. E, nos primeiros 10 dias de janeiro, a saída líquida somou US$ 4,6 bilhões.