O Globo, n.32.301, 13/01/2022. Economia, p. 11
MUDANÇA DE ROTA
Castro recorre a Bolsonaro, e governo decide rever modelo de leilão do Santos Dumont
Dimitrius Dantas e Manoel Ventura
No mesmo dia em que o governador do Rio, Cláudio Castro, se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro para pedir mudanças no edital do leilão do Santos Dumont, o governo anunciou que vai criar um grupo de trabalho para aprimorar o modelo de concessão do aeroporto. Em uma tentativa de chegara um consenso, o Ministério da Infraestrutura e o governo do estado divulgaram nota conjunta anunciando os planos. O governo do Rio e a prefeitura avaliam que o modelo proposto esvaziaria o Galeão, o aeroporto internacional, e prejudicaria a economia fluminense.
No encontro com Bolsonaro, Castro disse temera “canibalização” do Galeão, caso seja autorizado aumento de voos no Santos Dumont, conforme prevê a proposta do governo federal. O governador também se reuniu com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas.
O grupo que vai discutir ajustes no formato do leilão será formado por técnicos dos governos federal e estadual, representantes do consórcio que elabora estudos sobre o leilão, setor produtivo fluminense e autoridades locais. O assunto será tratado ao longo de 30 dias, a partir do dia 19.
“O objetivo comum é estabelecer acordo para uma solução técnica conjunta que garanta o equilíbrio do sistema multiaeroportos do estado, de modo que os aeroportos Santos Dumont e Galeão operem de forma coordenada, gerando emprego, fomentando o turismo e beneficiando diretamente o potencial econômico do Rio de Janeiro”, diz a nota.
SAÍDA DE TERMINAIS DE MG
As conclusões serão encaminhadas ao Tribunal de Contas da União (TCU), que analisa o edital. O governo quer licitar o Santos Dumont em um bloco de quatro aeroportos, que inclui ainda o de Jacarepaguá, no Rio, e os de Uberlândia e Uberaba, em Minas Gerais. Castro quer que os dois terminais de Minas sejam excluídos do bloco.
O governo costuma licitar aeroportos de maior interesse econômico junto com outros menores, para evitar que apenas o “filé mignon” da aviação atraia o setor privado. Mas, segundo Castro, isso reduziria o valor da outorga, o que seria prejudicial para o Rio de Janeiro. A avaliação é que, ao forçar o investidor a arrematar terminais menores, o lance oferecido pelo bloco poderia ser menos ambicioso. O governo federal estima lance de até R$ 1 bilhão ou mais.
— A gente está solicitando uma mudança, principalmente coma retirada dos aeroportos deficitários de Minas Gerais, o que faz te rum prejuízo para o Rio de Janeiro, já que a proposta é utilizar a outorga — disse Castro, em referência à sugestão de destinara outorga ao Rio.
Na semana passada, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, criticou a modelagem do leilão, afirmando em rede social que “parece licitação dirigida” e perguntando senão era um facilitador para quem tema concessão de aeroportos em Minas Gerais. A concessionária de Confins, em Belo Horizonte, é a CCR, junto com a operadora suíça Flughafen Zürich.
A empresa se destacou no ano passado como a grande vencedora dos leilões de aeroportos, ao arrematar 15 terminais. Ela já mencionou anteriormente o interesse em participar da disputa por Santos Dumont e Congonhas. A empresa foi procurada na semana passada e ontem, mas não comentou as declarações do prefeito e o pedido do governador para alterar o edital.
‘TEM QUE TER EQUILÍBRIO’
A prefeitura do Rio havia pedido que o edital incluísse restrições ao aumento de voos no Santos Dumont para evitar o esvaziamento do Galeão. Dos 13 milhões de passageiros que embarcaram em terminais da cidade no ano passado, apenas 4 milhões viajaram pelo aeroporto internacional.
—A questão toda é não criar uma canibalização entre o Santos Dumont e o Galeão. O Galeão é um ativo é nosso aeroporto internacional, e hoje está vazio. Tema questão de segurança, mas isso se deve também ao aumento do Santos Dumont, o que faz com que esses aeroportos sejam rivais — afirmou Castro.
Em caso de esvaziamento do Galeão, o Santos Dumont não teria capacidade para absorver integralmente a demanda. Neste cenário, especialistas apontam terminais de Minas, São Paulo e Brasília como os mais beneficiados. Isso reduziria, porém, a oferta de voos diretos a partir da cidade e voos internacionais, o que tem impacto econômico.
— Tem que ter equilíbrio entre os dois para que um não prejudique o outro. Se aumentar muito o Santos Dumont, aí vai acabar com o Galeão de vez. É uma demanda que todo o Rio tem hoje —disse Castro.