Democracia robusta
Murilo Medeiros
Correio Braziliense, n. 22575, 08/01/2025. Cidades, Palavra de especialista, p. 13
Os ataques de 8 de janeiro, inflamados pela polarização, desinformação e radicalização política, não foram capazes de pôr em risco a estabilidade democrática brasileira. Passados dois anos da invasão e depredação às sedes dos Três Poderes, observamos que a força das instituições e a resiliência da sociedade serviram de esteio para amortecer as ambições iliberais.
Mesmo sob pressão, os alicerces institucionais do país não cederam e demonstraram sua capacidade de resposta imediata e exemplar, com o repúdio generalizado da população a qualquer ameaça democrática. O nosso arcabouço institucional, eivado de mecanismos de controle, como bicameralismo, multipartidarismo, federalismo, imprensa livre, setor privado consolidado, Judiciário e Ministério Público independentes, entre outros, são âncoras que fream eventuais rupturas. Mesmo diante de crises, o sistema democrático do Brasil é capaz de se manter firme.
Países que detêm o centro político forte, como o caso do Brasil, também costumam enfraquecer aventuras autoritárias. As forças centristas trazem moderação e equilíbrio para a tomada de decisões, eliminando arroubos populistas à esquerda e à direita. Após os ataques de 8 de janeiro, o discurso em defesa da democracia se tornou mais evidente entre políticos, líderes da sociedade civil e cidadãos.
Houve um avanço pedagógico sobre a preservação do Estado de Direito. Os Três Poderes agiram de forma conjunta para enfrentar a crise, demonstrando maturidade institucional. O 8 de Janeiro de 2023 ressaltou ainda o valor de educar a população sobre o exercício da cidadania, o funcionamento das instituições e o respeito às leis. Uma sociedade mais informada está melhor preparada para resistir a discursos rasos e fáceis.
Nas últimas quatro décadas, sempre que a democracia foi ameaçada por métodos iliberais — depredações públicas, invasões de terras, desordem institucional e conspirações diversas — a sociedade reagiu de forma categórica. Os ataques de 8 de janeiro reforçaram novas lições para a democracia brasileira, a principal delas é que é preciso estar sempre vigilante, mesmo em períodos de normalidade institucional.
Murilo Medeiros, cientista político da UnB, com especialização em democracia, direito eleitoral e poder legislativo