O Globo, n. 32.302, 14/01/2022. Economia, p. 13
Bolsonaro diz que é preciso atender o Rio e o passageiro
Dimitrius Dantas, Gabriel Sabóia e Lucas Mathias
Um dia depois de se reunir com o governador do Rio, Cláudio Castro, o presidente Jair Bolsonaro comentou ontem a concessão do aeroporto Santos Dumont. Lembrando que nasceu em São Paulo, mas se elegeu pelo Rio, afirmou que tem interesse em atender as demandas do estado com relação ao leilão, mas que precisa atender também o usuário.
— Há bom interesse nosso em atender o Rio e atender o usuário, ao qual nós devemos lealdade —disse Bolsonaro.
Após a visita de Cláudio Castro, o governo federal anunciou a criação de um grupo de trabalho que revisará ao longo de um mês o modelo de concessão. Ele será formado por representantes do governo do Rio, do governo federal e por empresários.
‘NÃO É IMUTÁVEL’
Autoridades fluminenses avaliam que o modelo proposto até agora levaria ao esvaziamento do Galeão, o aeroporto internacional, o que seria prejudicial para a economia do Rio. Isso acontece porque o edital permite a ampliação de voos no Santos Dumont, localizado no Centro da cidade. Com a mudança, a avaliação é que ele atuaria como terminal concorrente.
O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, admitiu mudar detalhes do edital, sem citar quais. O texto está em análise pelo Tribunal de Contas da União (TCU), mas as conclusões do grupo de trabalho serão enviadas à Corte:
— Ao final dessa discussão, nós vamos ficar com um modelo bom, que preserve o terminal Rio, que preserve a capacidade do sistema multiaeroportos do Rio, que faça com que esses dois aeroportos possam crescer de forma sustentável. Vamos fazer uma boa discussão. O que a gente pode esperar como resultado é mais investimento para o Estado do Rio e uma configuração harmônica de operação desses dois aeroportos.
PAES ELOGIA NEGOCIAÇÃO
Dos 13 milhões de passageiros que embarcaram em terminais do Rio ano passado, 9 milhões viajaram pelo Santos Dumont. Circularam pelo Galeão 4 milhões de passageiros.
—Grande parte dos que vão para o Rio prefere descer no Santos Dumont pelos mais variados motivos, então aí é um ponto que complica um pouco —disse Bolsonaro.
Castro afirmou ontem, ao visitara Rio Innovation Week, que o próprio ministro da Infraestrutura garantiu que o modelo de concessão “não é imutável”.
— O que o ministro nos explicou é que mandar o modelo de concessão para o TCU é um procedimento técnico, que pode ser mudado a qualquer hora. Ontem cobramos isso dele. Deixei claro que o que foi para o TC U desagradou ao Rio, que esta proposta não nos atende. Por isso, ele propôs a criação desse grupo de trabalho. Nada do que o TCU recebeu é imutável e, do jeito que foi, prejudica o Rio de Janeiro.
Acompanhado do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Castro disse contar coma ajuda dele e de outros políticos fluminenses para alterara proposta. O senador afirmou que o grupo de trabalho vai buscar um consenso em torno do tema. No mesmo evento, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, disse torcer para que o grupo de trabalho obtenha resultados.
—Recebia notícia da formação desse grupo de trabalho com muita alegria. Foi um movimento importante do Castro, que é aliado político do presidente Bolsonaro. Aliado político, é bom lembrar, não pode ficar só com o ônus, também tem que ter algum bônus. Ele foi lá, dialogou. Espero que isso resulte em mudanças efetivas no edital — disse Paes, acrescentando que conversou com Freitas e com interlocutores de Bolsonaro, sem sucesso. — Nada adiantou. Espero que não empurrem com abarriga e resolvam esta questão.
Castro pediu que o Santos Dumont não seja leiloado em bloco com dois aeroportos de Minas Gerais. Para ele, isso reduziria o valor da outorga.
— Também pedi para que observem essa disputa entre o Rio e Minas por (centros de distribuição de voos). Precisamos de equilíbrio em qualquer hipótese.