O Globo, n. 32.302, 14/01/2022. Brasil, p. 8

A solução das cidades para preservar a Mata Atlântica

Cleide Carvalho


De 2017 a 2021, prefeituras criaram 117 unidades de conservação, segundo levantamento que mapeou 1.388 áreas.

Em Ilhabela (SP), a Baía de Castelhanos foi transformada numa reserva extrativista e os caiçaras vão continuar a tirar sustento do mar e da terra sem destruir a natureza. Da Ponta da Pirassununga à Ponta da Cabeçuda, a área chega a 957 km². Em Florianópolis, 12% do território do município abriga agora o Refúgio de Vida Silvestre Municipal Meiembipe, onde estão as nascentes de duas bacias hidrográficas e vivem ao menos 10 espécies ameaçadas de extinção.

As áreas fazem parte de um conjunto de 117 unidades de conservação da Mata Atlântica criadas entre 2017 e 2021 por municípios. Foram identificadas num levantamento feito pelo SOS Mata Atlântica, que catalogou 1.388 unidades de preservação mantidas pelas prefeituras. Juntas, elas preservam 5,4 milhões de hectares.

A fundação fez o levantamento porque apenas 329 unidades de conservação municipais estão no cadastro nacional que é a base de dados do Ministério do Meio Ambiente. Na maioria das vezes, as prefeituras não têm mão de obra disponível ou capacitada para inserir as informações no cadastro. O último levantamento, em 2017, menos abrangente, havia encontrado 934 unidades municipais.

— Há mais unidades de conservação municipais do que pensávamos — celebra Diego Martinez, coordenador de projetos do SOS Mata Atlântica.

A Mata Atlântica abrange 3.429 municípios em 17 estados. Destes, 2.172 fizeram parte do levantamento. Em 29% das cidades analisadas há alguma área protegida pela gestão municipal. Estudos futuros vão pesquisar mais 1.257 municípios.

Segundo a fundação, cerca de 28% dos remanescentes florestais com área acima de 3 hectares, as matas mais conservadas do bioma, estão nas unidades de conservação. Podem ser criadas por cidades, pelos estados ou pelo governo federal.

OPÇÃO À POLÍTICA FEDERAL

Embora a maioria das unidades municipais não seja de proteção integral da Mata Atlântica, a ação das prefeituras é essencial para conter a expansão imobiliária. A maior parte está nos estados do Rio de Janeiro (114), Paraná (127) e São Paulo (61). Respondem por 72% do total. O Mato Grosso do Sul registra a maior área de unidades de conservação municipais, com 342 mil hectares.

A Mata Atlântica mantém hoje só 12,4% de sua vegetação original. Para Martinez, a paralisação nas ações do governo federal para a preservação abre espaço para que estados e municípios tomem a frente das ações de proteção ambiental: é na vida das cidades que as mudanças climáticas causam os impactos mais visíveis, como racionamento de água e até os deslizamentos de encostas.